Um tour pelos bares bruxos Redator: Annelise C. Habsburg Há séculos os humanos têm uma fascinação por círculos, dando significa...

O Cabeça de Javali

Um tour pelos bares bruxos


Redator: Annelise C. Habsburg



Há séculos os humanos têm uma fascinação por círculos, dando significado aos locais onde os encontram. Da eterna rotação dos planetas ao redor do Sol, ao movimento dos ponteiros dos relógios, a uma simples aliança de casamento ou mesmo ao fundo de um copo de bebida. Talvez seja por isso que ainda exista um grande fascínio por bares e tabernas, onde estar enfeitiçado pelo olhar fixo ao círculo interno do seu copo, e do líquido que vem dentro dele, faz tão bem ao corpo e a mente. Os bruxos não são tão diferentes dos trouxas nesse quesito, bares são uma especialidades das duas culturas, seja para encerrar bem um dia longo de trabalho, para extravasar nossos problemas, para comemorar ou mesmo para afogar as mágoas.

Mesmo agora, em tempos de crise e descontentamento, onde não se sabe como os próximos dias podem ser, os bares ainda são um refúgio sagrado para esvaziar a mente e acalmar a alma. Muitas vezes também servem como ponto de encontro para discutir ideias, trabalhar pensamentos e até incitar revoluções. Não se deve menosprezar a importância de um lugar como esses. De todos os bares bruxos conhecidos, no entanto, existe um cujo nome sempre trás uma sensação estranha, cuja presença sempre remete a algo ruim por conta de um passado não tão distante: O Cabeça de Javali.

No passado me lembro de ter entrado lá algumas vezes, ainda como estudante de Hogwarts mesmo que já tivesse idade para beber um uísque de fogo sem ser incomodada. O lugar era pouco amigável, admito. A limpeza não era a sua maior especialidade e o salão sombrio parecia ser inseguro. O fogo que sempre ardia lentamente na lareira ainda estava aceso, mas ninguém parecia se incomodar ao ponto de querer alimentá-lo com mais um pedaço de lenha. Poucas pessoas solitárias nos cantos bebericavam seus drinques com expressões mal humoradas no rosto, havia homens de diferentes tipos e nenhum deles parecia gostar da presença de uma mulher naquele estabelecimento. O homem atrás do balcão do bar tinha um toque de cinismo nos lábios e segurava com as duas mãos um copo que não parava de limpar, embora não houvesse mais o que limpar e ele já estivesse quebrado.

Essa história seria mais do que suficiente para fazer com que o lugar não estivesse mais na sua rota de visitação, é claro, mas como alguém insistente - o que faz bem o meu estilo - eu voltei no estabelecimento no decorrer dos anos. Mesmo que eu tenha encontrado diferentes figuras por trás do balcão a recepção gélida era sempre a mesma. Até que tive uma grata surpresa na última vez em que visitei Hogsmeade. Havia uma mulher por trás do balcão. Admito que senti certa euforia com tal achado, não que uma mulher tenha qualquer inferioridade para gerir um bar, aliás penso que sempre são melhores que os homens, mas naquele ambiente inóspito nunca pensei encontrá-la. O clima já era muito mais agradável, aconchegante e, para a alegria de qualquer pessoa normal, limpo.

Os frequentadores habituais pareciam ter mudado, não haviam mais aquelas carrancas de sempre e ela exibia um sorriso terno nos lábios, mesmo demonstrando a todo o tempo ser dura na queda. Talvez um lugar cuja história mostrava ser de um declínio tivesse finalmente se reerguendo. Quem diria que o Cabeça de Javali poderia ter algum estilo? Parecia começar a ter. Conheci a jovem moça, Sarah Donati Rolstroy era o seu nome, ela me contou que no começo não tinha sido fácil se fazer ouvir ou mesmo aceitar ali dentro. Mas que os frequentadores do lugar não tiveram muita escolha porque ela realmente era dura na queda. Passei um fim de tarde ali, observando-a cantarolar durante o expediente, há quem diga que a bruxa poderia ser uma fada, mas a verdade é que qualquer lugar pode ser bom se o tratarmos com respeito.

Em outros tempos eu deixaria o meu convite aos leitores para darem uma chance ao Cabeça de Javali, porém dadas as circunstâncias isso não é possível, mesmo assim a dica ainda existe para um futuro - esperamos que próximo - onde a nossa vida volte ao normal e os estabelecimentos que conhecemos desde sempre voltem ao seu funcionamento normal. O bar em questão pode não ter a melhor fama ou a melhor cerveja amanteigada do mundo, porque essa sou obrigada a dizer que só encontramos no Três Vassouras, mas eu acredito que ele tem muito mais a oferecer. Assim que tudo se estabilizar, a lareira for acesa novamente e Sarah voltar ao trabalho cantarolando pelo salão, então garanto que ninguém vai se arrepender. Por enquanto nos resta aguardar o retorno de tempos melhores, uma vida normal e tudo voltando a ser mais calmo e meramente rotineiro.