E um debate sobre a origem das guerras
Por: Liam Chandler Wichbest
O ano foi 1967. A cidade de Gaza já não era mais agraciada pela tolerância. Cerca de duzentos e cinquenta dois bruxos árabes foram mortos no atentado conhecido como “Golpe de Gênio” (ضربة عبقرية). Naquela época, as tensões entre Israel e Egito, Jordânia, Síria e Líbano já eram grandes com a aproximação da Guerra dos Seis Dias, um conflito trouxa envolvendo questões principalmente políticas e territoriais. Mesmo que na desvantagem, o Estado israelense conseguiu obter a melhor na disputa militar, mas não me cabe discutir as consequências disso. O Estado era uma zona de volatilidade. Grupos extremistas começaram a ter disseminação imediata pelas áreas mais pobres, buscando erradicar aqueles que não seguissem os seus ideais. Foi quando os bruxos foram atacados. Ninguém sabia que aquele povoado era realmente bruxo, mas eles certamente não eram judeus. Isso foi o bastante para que pessoas inocentes fossem duramente massacradas pelos extremistas que bombardearam as suas casas e estabelecimentos em uma manhã ensolarada de terça. Os poucos bruxos que conseguiram escapar, tiveram que procurar abrigo em outras regiões e permanecerem ainda mais escondidos em uma penumbra de intolerância. Quando os escombros foram pilhados, notou-se a presença de itens incomuns como tapetes e lâmpadas mágicas, associadas aos jinns, o que gerou o nome “de Gênio” ao acontecido. A partir de então, toda a menção a feitiçaria se tornou um chamariz para a proibição e censura naquela região.
“Até hoje, em meio aos bombardeios na Faixa de Gaza, os bruxos da região precisam ter cuidado redobrado em meio a um território onde a governança mágica não possui um poder centralizado. Eles lutam por si mesmos. Em 2014, uma família bruxa foi assassinada e os locais dotados de magia decidiram responder explodindo um templo judaico.”
Já não faz muito tempo, em 2006, Kurt Kox um adolescente bruxo de dezessete anos, residente de uma cidadezinha no Iowa, Estados Unidos, chamada Burlington, assassinou cerca de vinte e três não-majs em uma Igreja presbiteriana. O infame clarão de luz verde encontrou, entre as vítimas, uma garotinha negra de oito anos chamada Beverly. Quando questionado acerca de suas intenções, Kurt explicou que tinha ódio de trouxas, especialmente daqueles “negros da igreja”. Um crime não apenas de ódio, mesclando a intolerância e o racismo. Ele foi detido pelas autoridades bruxas. A polícia trouxa não entendeu como precisão a causa da morte daquelas pessoas, mas emitiu uma nota para a mídia com informações envolvendo “armas de fogo” para despistar as perguntas indiscretas. A América nunca recebeu a magia de forma amigável e muitos apoiadores de Kurt, sim, eles existem, justificaram que ele era um reflexo de uma sociedade bruxa que sofreu anos de perseguição de purgantes e desconfiança quanto aos não-majs. Segue uma lembrança sobre o Julgamento das Bruxas de Salem e a própria criação e constante mudança da MACUSA em meio ao cenário político do Novo Mundo:
“Em Salem, os puritanos europeus executaram desde bruxos a não bruxos em nome de suas crenças religiosas. O que hoje a ciência trouxa explica como crises de asma e abuso psicológico foram enxergadas como associação a feitiçaria e ao demônio pelos fanáticos daquela época. Seu impacto foi tamanho que ocasionou na fundação do Congresso Mágico dos Estados Unidos da América (MACUSA) em 1693. E o conflito persiste por mais tempo, quando Dorcus Twelvetrees e o purgante Bartholomew Barebone se tornaram responsáveis por uma das maiores violações no Estatuto Internacional de Sigilo, o que culminou na aprovação da Lei de Rappaport e segregou estritamente as duas comunidades. Com a aprovação da lei, o casamento e até mesmo a amizade entre bruxos e não-majs tornou-se ilegal nos Estados Unidos.”
Mesmo que sejam acontecimentos com tamanho e intensidade diferentes, qual a semelhança entre eles? Eles são a prova de que entre vinte e três e duzentos e cinquenta e dois inocentes, a mobilização de apenas uma pessoa já é suficiente para causar uma enorme tragédia. Sendo este o caso, podemos definir uma origem primordial para os conflitos? Eu tenho uma teoria acerca disso: a infinitamente estúpida capacidade do ser humano em ser egoísta. Seja por medo, seja por poder, seja por sabedoria, seja por um pedaço de terra, seja por burrice… o começo das guerras sempre parte de um ponto em comum. O egoísmo surge no coração de uma pessoa, mas pode se tornar uma doutrina em grandes populações. E como diz o ditado: “Quando se joga fogo com fogo, só se consegue um incêndio maior.” Purgantes perseguem bruxos e grupos de guerra dizimam populações inteiras. As divergências levaram os bruxos a criarem uma lei de segregação entre bruxos e trouxas, os defensores de sangue puro enxergaram o resto da sociedade como escória e no final do último século, Lord Voldemort anunciou seus ideais de supremacia mágica. Independente de qual seja o lado, atitudes extremistas sempre geram consequências radicais que normalmente são incapazes de serem contornadas depois de ocorridas.
Quando as bombas acabam e o barulho cessa, vidas continuam perdidas, vilarejos continuam destruídos e histórias de violência marcadas para sempre na memória e nas cicatrizes de quem viveu no meio do confronto. Não há justificativa para guerra senão a intolerância entre os homens.