Por: Anira Prunella Stackhouse
Andei pelas ruas sem um objetivo concreto e acabei percebendo mais nas pessoas ao meu redor e suas formas de se comportarem com os outros e principalmente, como o material que nos é dado. Eu simplesmente vi de tudo, pessoas apressadas, felizes, triste, com raiva, perdidas e as que mais me chamaram atenção, foram aquelas que humildemente, domadas por uma motivação maior, trabalhavam sem vergonha, mostrando seus talentos, cantando, dançando, magica trouxa, acrobacias, estatuas humanas, pintores e animais adestrados. Valorização? Ninguém dava e muito menos parava para prestigiar e foi exatamente o que fiz. Parabenizei e abracei cada um deles e sei que meus atos foram importantes para eles. Estavam precisando de dinheiro, mas um sorriso, um piscar, um olhar, pode ser mais que suficiente.
Depois de ponderar muito, tentei observar esse mesmo comportamento em nosso mundo bruxo, passeando por Hogsmeade, beco Diagonal e demais localizações movimentadas que sempre visitamos, senti a falta e deficiência desses artistas. Afinal? Onde estão os talentosos? Comecei a questionar aos comerciários, aos passantes e consumidores. As respostas foram as diversas, mas acabei concluindo que assim como no mundo trouxa não valorizam os artistas, a cultura da arte, no mundo bruxo é mil vezes pior, onde temos tudo facilmente com movimentos das varinhas. Acomodados ou falta de motivação? Uma pergunta tão gostosa de se fazer e continuei buscando alguém com algum talento reprimido, para saber porque não revelar, mas fiquei surpresa com a conclusão.
Nossa cultura vem passando por diversas modificações tanto por nós, como por influencias do avanço do mundo livre. No meio de toda essa transição de costumes, o meio artístico sofreu, o que retardou a aparição de bruxos talentosos. Perguntei a dois jovens porquê não investir e ampliar para todos nós o que sabem fazer de melhor.
Karina Báthory Salvatore, 15 anos de idade, respondeu: “Bom, minha mãe sempre falou de uma educação completa. Ela falava que uma pessoa deveria saber tocar algum instrumento e desde a infância aprendi a manusear alguns. Acredito que diferente de minha mãe, as pessoas têm perdido esse sentimento de valorização. E tocar instrumento não parece fazer parte de uma educação e sim de um lazer ou mesmo passatempo juvenil. Talvez para ampliar esse gosto, as escolas pudessem dar algum incentivo. ”
Charlie Hyeras Yew, 13 anos de idade, desabafou: “A música para mim não é algo que eu enxergue como meio de trabalho ou investimento. Ela é apenas um passatempo para deixar o corpo e a mente mais leves. A filosofia da música vai além de uma simples letra ou melodia, ela tem que ser sentida e entendia. No entanto, a sociedade quis usar o dom das pessoas como forma de ganhar dinheiro, o que não é certo. Por isso não amplio meu dom para o mundo. ”
Motivados e influenciados pelas famílias, os jovens conseguem inserir-se na cultura, mas não como forma de ganho e sim de puro prazer, outros, forçados. Nosso dom precisa ser apreciado e não explorado, assim deixaram claro, precisam ser vividos e não aprendidos como uma obrigação. Ir às ruas é consequência da difícil vida que levam, ir à público é o grande medo da exploração daquilo que precisa ser entendido e sentindo.