Por: Annie Miller Slowli
A conexão entre povos não é algo novo no mundo bruxo. Nossos meios de transporte, surgidos em tempos remotos, bem como as formas de comunicação proporcionadas pela magia, promovem há muito tempo o contato entre comunidades bruxas, quaisquer sejam as distâncias que as separam uma da outra. Diferentemente dos trouxas, que, tratando-se de povos de diferentes continentes, ficaram limitados durante milênios de entrarem em contato entre si devido a sua escassa tecnologia, desenvolvida o suficiente apenas nos últimos séculos. Tal integração permitiu uma homogeneização de culturas. Devemos considerar, obviamente, as diferenças entre costumes de cada país e de cada comunidade bruxa, muitas vezes influenciadas também pelos costumes trouxas, mas as semelhanças entre elas foram reconhecidas outrora e bastante intensificadas com o tempo.
Dessa forma, movimentos migratórios não são uma novidade no mundo bruxo. Temos como clara evidência de tal fenômeno a grande quantidade de habitantes mágicos que descendem de famílias de nacionalidades distintas, inclusive de famílias trouxas ou com predominância de mestiços. As complicadas árvores genealógicas expõem tal mescla, e não é raro nos depararmos com diferentes sotaques nas falas em inglês quando andamos por Hogwarts. Notamos nessa escola a presença de muitos estudantes que vieram de outros países europeus ou até mesmo de outros continentes, mesmo que exista uma escola bruxa em sua terra natal. A presença de estrangeiros também é notável no Nôitibus Andante, visto que muitos deles não sabem se guiar pelas ruas da Grã-Bretanha sozinhos e se perdem, necessitando então do auxílio do ônibus para chegarem a seu ponto de destino.
O Profeta Diário convidou o Responsável Pelo Setor de Imigração e Migração da Grã-Bretanha do Departamento de Cooperação Internacional em Magia (Nível 05 do Ministério da Magia), Sebastian Funke Klein, para comentar sobre as diversas faces da imigração abordadas nesta matéria. "Temos dados do setor administrativo de que a cultura britânica é mais influenciadora aos estrangeiros do que o oposto, e isso prova o quanto nossa cultura é rica, bela e envolvente. Há também uma análise clara de que a receptividade britânica melhorou bastante. Sempre tivemos uma fama de povo fechado e até mesmo esnobe que mudou bastante através desta troca de informações internacionais. A verdadeira magia oferecida por nosso departamento é possibilitar que os povos possam ter tranquilidade em residir no nosso território, e como consequência casarem e gerarem proles em solo britânico. As famílias miscigenadas já são 74% em todo o Reino Unido, provando assim que somos de fato um povo multinacional."
Para manter a garantia dos direitos dos imigrantes e a não violação da legislação bruxa britânica, o Ministério da Magia enfrenta diversos obstáculos e precisa ser muito eficaz ao trabalhar na solução deles. A agilidade com que os transportes mágicos conduzem seu usuário de um país a outro (no caso, sem a necessidade de um visto) enfraquece a eficácia e até mesmo inviabiliza a necessidade de registros pelo Ministério da Magia, permitindo o estabelecimento de imigrantes ilegais no país. Sebastian alerta: “No que tange à facilidade de transportes mágicos que levam diretamente a outro local, como a Rede de Flu, tomamos medidas recentes que reduziram drasticamente a eficácia dos criminosos. Em cada grande rede por nós mapeada, há estrategicamente em sua saída um auror, sento um trabalho laborativo de escala. Ainda nesse sentido, para inibir o avanço de possíveis criminosos se valendo de meios burladores, esses aurores são dotados de permissão para pedir que os tidos como suspeitos por eles, bebam da poção Veritaserum, vulgarmente conhecida como poção da verdade. Caso a pessoa se recuse a tomar, será levada ao Ministério para maiores esclarecimentos e investigações, haja vista o princípio de que quem não deve, não teme. Contudo, o único problema que realmente fica inviável de solucionar completamente é no que se refere às chaves de portais, haja vista que qualquer objeto em qualquer lugar pode vir a se tornar um portal. Nesse caso contamos com a população, que deverá comunicar ao Ministério da Magia cada um que venha a tomar ciência, para que assim possamos tomar as medidas cabíveis.”
Também por conta dessa facilidade em mover-se de um lugar para outro sem ser vistoriado, os Ministérios reconhecem problemas relacionados à identificação e detecção de criminosos de outras nacionalidades e de vítimas de acidente estrangeiras, no caso de atendimentos emergenciais nos hospitais. Sebastian garante que este último problema foi priorizado: “O Nível 05 firmou com diversos países da Europa um acordo mútuo de atendimento aos casos emergenciais. Ou seja, nos casos onde não há possibilidade ou ainda que seja de difícil remoção do paciente, o mesmo é tratado como se nacional fosse e, posteriormente, a conta hospitalar é enviada ao departamento de finanças do Ministério. Para os que não sabem, a parte administrativa do Departamento de Cooperação Internacional em Magia trata justamente de questões como essas e tantas outras.”
A preocupação com tantos problemas externos, porém, não impede que aconteçam problemas internos. A grande integração necessária entre os Ministérios para versar as questões que envolvem relações internacionais pode resultar em sérias precipitações por parte das autoridades. Recentemente, o Ministério alemão declarou impedir a entrada de britânicos em seu território. Um retrocesso preocupante e devastador que se transformou numa polêmica que se espalhou por toda a Europa. “O Ministério da Magia alemão vem impondo retaliações ao Ministério Britânico e também ao nosso parceiro comercial, a França. Isso tem a ver com os pequenos problemas que ambos os países vêm enfrentando desde a infame Taça Europeia. Quando se foi descoberto que a Alemanha havia escondido dos outros ministérios os problemas de segurança da área, por puro interesse econômico, França e Grã-Bretanha resolveram rever todos os contratos econômicos recém-feitos com a Alemanha, de maneira que toda a vantagem por ela obtida acabasse esvaindo-se. Em uma tentativa de desafronta, a Alemanha simplesmente agora cumpriu a sua ameaça de fechar as suas fronteiras para turistas. Recentemente tivemos uma reunião com os líderes desses países, mas foram infrutíferas as tentativas de acordo. Ainda vamos analisar meios de findar essa problemática, pois não há o que não possa ser resolvido, salvos a morte e um Obliviate, claro.”
O paralelismo entre a entrada legal e a ilegal de imigrantes é percebida de forma veemente na economia. Muitos deles saem de seu país de origem por estarem desempregados, mesmo que qualificados. Dessa forma, sua saída não representa um prejuízo para sua região nativa, pois não pagam impostos pela falta de salário. Ao chegarem ao país de destino e legalizarem sua estadia, um leque de oportunidades surge para eles, pois poderão ter acesso ao emprego formal, a direitos de cidadão e à formalização de um negócio próprio. Além disso, acrescentam demanda (porque consomem) e oferta (porque disponibilizam mão de obra), pagam impostos ao governo e destinam remessas a seu país de origem. Porém, não são todos os estrangeiros que seguem esse caminho e optam por se estabelecerem ilegalmente no país de destino. É preciso deixar claro que é fácil regularizar sua situação como imigrante no Mundo Bruxo, então, muitas vezes, os imigrantes ilegais estão ligados à violação de leis.
Uma das principais consequências desse cenário é o contrabando; não que este não seja também praticado pelos próprios nativos, mas é uma saída bastante atraente para os imigrantes ilegais fazerem dinheiro. O produto contrabandeado lesa seu consumidor por conta de sua qualidade duvidosa, podem ter sido produzidos por pessoas que trabalham sob condições subumanas ou que estão submetidas à escravidão (esta pode estar relacionada ao tráfico de trouxas, assunto que precisa ser conhecido pela população bruxa), prejudicam o comércio legal e as exportações e diminuem a receita do Ministério da Magia, trazendo prejuízos a todos os cidadãos. Sobre como parte desse problema é tratado, Sebastian destaca: “É sabido pelo Ministério Britânico que muitos artefatos ilegais são vendidos e contrabandeados, e para evitar esse tipo de situação as fronteiras também estão melhor vigiadas e as redes de Pó de Flu servem como filtro, já que todos que desembocam em seus terminais pré-determinados são minuciosamente revistados e indagados do escopo que os levou a estar ali.”
Um relatório com cerca de 68 laudas, escrito por quatro aurores durante a fiscalização das fronteiras da Grã-Bretanha, averiguou que o percentual de imigrantes ilegais em nossa região é muito elevado e 45% deles estão cometendo delitos mais diversos, especialmente os russos e os búlgaros. Foi enviado para Sophie Hale, Responsável pelo Organismo de Padrões de Comércio Mágico Internacional, para que fossem avaliadas as consequências negativas para a economia britânica e futuramente servir como base para uma maximização da efetividade do requerimento de entrada em nosso território, criando mecanismos de maior segurança alcançados através de um detalhado questionário, e para a solicitação de uma estipulação do tempo que o bruxo pretende permanecer em território britânico. “Srta. Hale calculou que os gastos por parte do Ministério da Magia Britânico para executar com êxito tais ideias e o prejuízo de investimento dos demais países nos cofres do Gringotes não seriam compensados por tal enrijecimento. Embora haja uma filial em cada país europeu, muitos bruxos do mundo tendem a achar a segurança do nosso banco a anos-luz o melhor de todos, e por esta razão deixam sua renda e tesouros sob nossa tutela. Mas ficou claro para nós que em primeiro lugar está a segurança da população e, claro, a renda gerada através de meios lícitos."
A imigração, quando bem administrada pelos Ministérios da Magia, traz inúmeros benefícios para o poder público, para a população do país de destino em geral, para o país nativo e, sem dúvidas, para os próprios estrangeiros. A organização do governo precisa ser muito sólida para garantir que esse processo seja realizado dentro das leis, pois as consequências da imigração ilegal, quando estabelecida, possuem a possibilidade de serem revertidas apenas com um trabalho muito mais árduo. Para encerrar, Sebastian Klein ressalta a importância do Nível 05 para o turismo, “através do qual há uma grande captação de pecúnia, afetando diretamente o padrão de vida de cada bruxo, e para o comércio”, e despede-se então de todos os leitores “com o peso da responsabilidade, mas com a serenidade de estar fazendo o que é certo e promissor para todo o Reino Unido.”