É de conhecimento – ou deveria ser – de todos os bruxos que passaram pelo primeiro ano em Hogwarts que as comunicações entre os trouxas e os bruxos datam de muitos anos atrás, na época dos faraós do Egito, da Civilização do Vale do Nilo, a aproximadamente 3150 a.C. Naquele tempo, os Faraós que apesar de não possuírem nenhum tipo de magia, eram os reis do pedaço, literalmente. Os feiticeiros eram chamados pelos Faraós para contar como seria a sua vida após a morte, naquela época ainda que de forma quase indireta já existia um contato minimamente civilizado entre os dois mundos, mas esse só se tornou direto e gerador de frutos algum tempo depois. A história a seguir data aproximadamente do ano de 1300, quando os bruxos começavam a constituição da sua sociedade.
“ Isaiah era um homem parrudo, dotado de uma bela pança e cabelos ralos e acobreados que desciam da cabeça e se alojavam em uma barba mal feita já fina devido a idade bastante avançada. De longe enfiado em seu terno detestável cor de abóbora era possível observar o enorme esforço que o velhote fazia para manter os botões de sua calça fechados, e o sôfrego movimento de seus pulmões que tentavam conter o ar expirado sem que esse lhe faltasse, a medida em que o cinto de couro gasto comprimia todo o ar que ele precisava. O fio gotejante que lhe descia desde a testa e alisava sua bochecha finalmente pingou, ao mesmo tempo em que Isaiah afrouxava as calças e sentava no pequeno banco surrado de madeira que mal acomodava sua poupança, retirou de dentro do bolso surrado do paletó um lenço tão gasto quanto e o passou sobre o rosto fazendo com que poucas gotículas de suor sumissem dali, uma vez que não estava munido de sua precisão habitual. Ergueu uma das mãos e desferiu um golpe contra o balcão de madeira velha, acolhedora de ácaros e mofo que faziam o homem sentir repulsa de sua própria vida, o líquido marrom espumoso não demorou a ser colocado a sua frente em um copo mal lavado pelo companheiro banguela que acompanhava sua pirela de todo dia. A agonia era a mesma de todo dia, suas mãos tremulas mal conseguiam levar o copo até os lábios sem que o líquido pingasse em suas calças, Isaiah já não aguentava mais tamanho sofrimento.
As imagens o atordoavam a todo o momento, e o velhote começava a temer as consequências que aquilo teria logo quando sua esposa percebesse. Isaiah deveria ser o dono de sua própria casa e de seu próprio nariz, mas a verdade é que tinha medo de encarar a esposa que amedrontava seus cinco filhos e era a única a qual Isaiah temia. Quem o via no trabalho, não acreditaria que aquele era o mesmo homem dentro de casa. Mas sabia também, que os homens do trabalho não aprovariam. O líquido que lhe desceu queimando a goela não serviu para apaziguar seus ânimos, tão pouco para que ele encontrasse uma solução para o problema, sua excitação era tamanha que o amigo resolveu intervir. – Honre suas calças homem! E dê logo um jeito nisso! Bradou o banguela enquanto suas mãos habilidosas e conhecedoras do trabalho manual despejavam mais do líquido quente no copo de Isaiah, que ignorou os risos e assovios dos conhecidos da taberna e engoliu o líquido de uma só vez, sorvendo o torpor que o álcool o fazia sentir. Levantou em sobressalto, ou pelo menos tentou, suas pernas curtas quase lhe enganaram fazendo com que ele tropeçasse e só ficasse de pé por se apoiar com os braços curtos e rechonchudos no balcão asqueroso. Não se preocupou em pagar, não era bobo, sabia que o líquido por ele ingerido não seria nem ao menos anotado, já que Banguela não iria querer seu bar fechado por um fiscal de regulamentação do Conselho dos Bruxos imposto recentemente. Suas pernas curtas de passos rápidos o levaram para fora da asquerosa taberna, e ele sentiu que seu sofrimento recomeçaria, mais uma vez, seu amigo para todas as horas sugou as gotículas de suor que se alojavam ao longo do bigode e seus passos recomeçaram em direção ao seu inebriante momento de prazer diário.
Apressado, o homem em seu terno abóbora fazia a sinuosa curva de cascalho que o levava aos poucos para fora do vilarejo, em direção a sua casa depois de um dia de trabalho e alguns goles de quentão. A caminhada era demasiado longa, Isaiah poderia fazê-la em minutos se assim quisesse, mas havia abandonado a vassoura desconfortável para apreciar por mais tempo o que a vista lhe permitiria. Caminhava no pequeno trilho de terra cavado ao longo da grama escutando aos poucos o barulho da cachoeira que se tornava mais perto dele a medida que suas pernas curtas corriam em direção ao esperado. Sorriu, e ajeitou os cabelos torcendo para que a sudorese não o acometesse novamente, lá estava ela, como ele esperava. Trajava sua anágua tecida no mais puro algodão que desenhava suas curvas de modo que não devia fazer, seus cabelos loiros encaracolados caíam em cascata sobre suas costas presos com dois laços cor de rosa, podia sentir de longe o quão refrescante era o que ela fazia. Mas nada daquilo estava sendo refrescante para Isaiah, retirou a varinha de dentro do paletó, por precaução, não sabia o que poderia acontecer se alguém o visse ali. Ninguém podia culpa-lo, certo? Aquele lugar era caminho pra sua casa. Encontrou os olhos da moça, ela sabia que ele passava por ali todos os dias, e esperava sofregamente o dia em que até ela ele iria, não por sua própria vontade. Isaiah tinha suas artimanhas, de outro modo jamais atrairia os olhos de tamanha beleza. Mas o homem não cedeu, continuou seu caminho, daquilo tudo ele sabia que não poderia sair coisa boa, se alguém soubesse o que ele havia feito estaria em apuros. De acordo com o conselho, terminantemente proibidos eram os relacionamentos com os trouxas.”
[...] continua na próxima Edição