Um relato sobre a relação trouxa-bruxo por quem a vivencia da forma mais profunda
Redator: Liam Chandler Wichbest
Foi-se o tempo quando famílias bruxas de puro sangue respondiam com deserção aos seus membros que se envolviam amorosamente com um trouxa. Embora a intolerância seja uma raiz difícil de ser arrancada, os tempos modernos trouxeram uma mente mais aberta para os novos patriarcas das famílias mais proeminentes no mundo bruxo e provaram que o sentimento de afeto mútuo ultrapassa as barreiras do sangue e supera as diferenças de sociedade. A opinião pública entre relacionamento bruxo-trouxa se mostrava favorável até a pouco tempo antes da guerra explodir e a percepção acerca dos velhos indivíduos ausentes de magia ser completamente distorcida. O problema é que, embora os ataques provenham de um grupo específico de trouxas, muitos bruxos se aliaram a generalização de modo a criar uma imagem nova acerca destes, criando uma aversão pela comunidade com um todo. Em meio a esta nova barreira se erguendo entre os dois mundos - muito mais complexa que aquela erguida na Grã-Bretanha - como pensam aqueles que compartilham da vivência com trouxas a muito mais tempo? Como eles estão reagindo a essa situação toda e como a guerra tem afetado a experiência de relacionamento destes? Para este artigo, foram entrevistados um casal de noivos composto por um bruxo e uma trouxa. De modo a proteger as suas identidades, as iniciais foram abreviadas durante os relatos.
J. e L. se conheceram há quatro anos ao compartilharem de um relacionamento inicialmente e puramente profissional. J. é bruxo e L. é trouxa. “(...) Senti que tinha bem mais que um sentimento de amizade ali, então há três anos atrás tomei a melhor decisão da minha vida, chamei ela para um encontro.” Relatou J logo no começo da entrevista. Um romance surgiu entre os dois, evoluindo de forma que atualmente o casal está compartilhando as expectativas de seu casamento. As demais respostas da entrevista o leitor confere na íntegra abaixo:
Profeta: Vocês enfrentaram alguma dificuldade durante o relacionamento?
L: Eu acredito que não tivemos tantos problemas assim por trabalharmos juntos e sermos noivos, o que já traz por si só maior comodidade que a maioria das pessoas que tem um relacionamento com pessoas de fora da Grã-Bretanha. Acho que o maior problema, para mim, é ficar longe dos meus familiares, mas eu tenho J. e a família dele como uma segunda família, o que torna tudo mais tolerável.
Profeta: Quais os impactos da guerra na vida de vocês?
L: Para mim, é como se eu estivesse vendo meus dois mundos se odiando e querendo se destruir, o que é bem triste, não vou mentir. Afinal, eu sou a prova viva de que dá para se viver em paz com os bruxos, assim como Jason é um parâmetro bom para se saber que é possível sim conviver com um trouxa. O grande problema nesse conflito é que os dois lados tem medo de serem dizimados e acabam não tentando dialogar, não estou dizendo que a Marechal está certa em suas atitudes e nem que os primeiros levantes dos Vipers foram certos, só acredito que os dois lados teriam muito a ganhar se conseguissem se aliar, afinal os trouxas também tem um conhecimento vasto que pode ser muito bem implementado no Mundo Mágico e os Trouxas poderiam ter algumas facilidades que a magia proporciona.
J: Eu diria que são os mesmos impactos de um acordo entre um casal que está vivendo um momento de separação, ambas as partes estão certas e erradas, mas jamais vão admitir isso. Os Bruxos por muito tempo agiram sem dar conta de como pequenas alterações poderiam afetar os trouxas e agora os Trouxas estão agindo como a retaliação agressiva fosse a única saída. Temos aqui um mundo bruxo misto, existem trouxas que não só sabem da nossa existência, como convivem com nosso mundo, minha união é uma prova viva disso. Minha primeira reação foi pensar não só na minha segurança, mas na de L., trouxe ela para ficar comigo, longe de tudo o que está acontecendo, mas ainda assim, isso não nos blinda do sofrimento de ver ambos mundos que amamos e trabalhamos se destruindo. Talvez seja hora de ambas as partes sentarem e entrarem em um acordo, o que nos leva a outra questão, quem seria o melhor mediador e quem iria ceder primeiro?
Profeta: E quais as suas percepções em relação aos trouxas diante dessa situação?
L: Eu acredito que eles estão sendo impulsionados pelo medo, os trouxas já viveram duas Guerras Mundiais baseadas, basicamente, em busca pelo poder e temor por uma nova corrente ideológica que ninguém sabia muito bem o que pretendia ou o que queria. E foram tempos sombrios e banhados a sangues de inocente. Parece haver um ódio grotesco do Exército contra os Bruxos, provavelmente algo guiado por experiências pessoais, uma vez que eu ouvi histórias de bruxos sendo sequestrados e levados pelos Trouxas. Como falei antes, não creio que a Marechal e seus soldados estão certos, pois mortes e torturas nunca são uma boa solução, eu só espero que eles reencontrem o bom senso e as coisas conseguem ser resolvidas.
Uma relação pode vir de muitas formas
F.B. não tinha que lidar com gnomos no jardim de casa ou escutar os Contos de Beedle, o Bardo antes de dormir. Ele cresceu jogando Nintendo 64 e frequentando a escola pública como qualquer garotinho de sua vizinhança. Não imagina a surpresa quando seus pais receberam uma carta oriunda de uma escola de magia, clamando a presença de seu filho entre os estudantes. “Eles ficaram muito assustados, acharam que queriam me raptar ou coisa do tipo… mas então o responsável do Ministério da Magia apareceu e explicou tudinho.” B. contou ao relembrar as suas memórias mais antigas. Ele afirma que embora seja apaixonado por magia, não consegue se decidir sobre qual das duas realidades lhe atrai mais. “Tenho excelentes lembranças em uma vida perfeitamente trouxa. Às vezes uma rotina normal, sem feitiços e poções mágicas, é tudo o que eu preciso para relaxar.” Por ser residente da grande capital britânica, F.B. e seus pais sofreram com o ataque trouxa por cima da população bruxa. “Eles foram interrogados, mas eu ajudei a protegê-los e esconder a minha existência. Um Obliviate foi mais do que suficiente.” F. explicou que embora entenda que existem diversos fatores influenciando a estratégia trouxa, ele não culpa a sociedade como um todo em relação à problemática. “Um governo nem sempre diz respeito a toda uma nação. Generalizar é a pior coisa que se pode fazer, já que assim como muitos trouxas enxergaram bruxos como os vilões da história, nós também podemos acabar os julgando da mesma forma.” Para ele é tudo questão de uma disputa de poder que está muito além das mãos daqueles que realmente se importa em resolver a situação. Quem não compartilha do mesmo pensamento é G.D., um aborto que nunca esteve longe do mundo trouxa, já que dependia deste para manter o seu emprego. G. cresceu em um orfanato bruxo, porém ao estar distante de uma família que lhe adotasse, abandonou o local aos dezoito anos e começou a tentar a sorte fora da magia. Ele conseguiu um trabalho junto a uma oficina e viveu assim por anos, até que por ironia do destino encontrasse a sua mãe bruxa, a qual lhe convidou a retornar aos seus antecedentes. “Eu estou dizendo… meus colegas de trabalho dizem que bruxos devem ser exterminados. Sinto medo não apenas por mim, mas pelo resto da família que conheci recentemente. Infelizmente este mundo está cheio de gente ruim e eu sinceramente acho que elas estão em maior quantidade. Se não fosse assim… Essa guerra não estaria acontecendo.” G.D. permanece escondendo seu passado para os demais, temendo que algum dia eles lhe agridam de alguma forma - ou pior, tirem a sua vida.
Desde já, a redação do Profeta Diário agradece a disponibilização dos entrevistados e deseja apenas o melhor nessa linha tão delicada que é a interação entre os dois mundos em tempos perturbados.