E Quando Tudo Começou A Ser Queimado

Redator: Liam Chandler Wichbest
A magia sempre mexeu com a cabeça dos trouxas, seja de forma negativa ou positiva, variando bastante de acordo com o avanço da sociedade e o modo como a força governamental dessa sociedade costumou lidar com o tema. Desde o começo da humanidade, a importância de líderes com ligações relacionadas ao divino e ao sagrado sempre foi reconhecida e exaltada nas comunidades originais. Um xamã, por exemplo, era uma figura emblemática e respeitada pelos demais membros de uma tribo. Qualquer palavra dita por este líder da feitiçaria era tomada como uma ordem utilizada desde nos preparativos de um casamento a grandiosos planejamentos políticos de um conjunto de leis. Mas... Quando foi que os trouxas deixaram de admirar a magia e começaram a enxergá-la como uma ameaça ao bem-estar da população em geral? Bem, a resposta está enraizada na centralização de uma única crença. Enquanto o mundo é um vasto leque cultural, agraciado com os mais diversos tipos de manifestações religiosas, ainda é possível se deparar com a figura daqueles que sobrepõem suas razões por cima das outras. Hoje, a Sociedade Mágica sabe que a magia não possui apenas uma origem única e mesmo as leis estabelecidas pelo Ministério da Magia em cada país não garantem a soberania sobre um código de ética nas ações entre as pessoas. Cada pequeno grupo goza de suas próprias tradições e parte de reconhecer a força das raízes mágicas do planeta, é entender que ela se manifesta das mais variadas formas.
Esse pensamento não pareceu nada aceitável para alguns grupos radicais ao redor do mundo, mas ele obteve um destaque maior nas sociedades trouxas do mundo antigo e suas excessivas necessidades de estabelecer apenas um pensamento global sobre as suas crenças. O que tornou tudo pior para os bruxos e praticantes de magia em geral foi que esse pensamento nem ao menos aceitava a ideia da utilização de feitiços e poções. Ou qualquer coisa relacionada ao assunto. A magia começou a ser extremamente perseguida, e todos aqueles praticantes, ou pelo menos aqueles que fossem considerados como, eram submetidos a todo tipo de humilhação e até mesmo a sentenças de morte. Veja bem... Mesmo na Idade Média, homens e mulheres com conhecimentos sobre o oculto, especialmente nos ramos de adivinhação e curandeirismo, ainda eram bastante valorizados pela população. Entretanto em 1184 surgiram as primeiras medidas da chamada Inquisição, que embora tenha parte de sua origem atribuída à perseguição primária a outras ramificações do cristianismo, acabou incluindo a bruxaria em sua lista de heresias em 1320. Quando a Peste Negra explodiu nas ruas da Europa, os mais interessados em encontrar uma explicação sobrenatural para tamanho acontecimento, culparam ninguém mais, ninguém menos que as bruxas por afrontarem as ordens cristãs daquela época. Convenhamos, mesmo que bruxas fossem capazes de causar a disseminação de uma doença mortal de propósito, hoje a população compreende que a culpa toda estava nos ratos e a falta de higiene praticada pelo povo europeu medieval como fatores decisivos para a peste. O problema é que mesmo assim, milhares de homens e principalmente mulheres foram mortos durante a Caça às Bruxas na Europa e as palavras da Igreja contra essas práticas renderam mesmo um livro [i]best-seller[/i] sobre tortura humana direcionada a bruxas. Esse livro tem o nome de [i]Malleus Maleficarum[/i] e consistia nas orientações de homens santos da Igreja sobre como arrancar confissões de feiticeiros com o uso de equipamentos pesados e dolorosos.
A obsessão europeia pela conquista em busca de novas terras para clamar como suas não se restringiu apenas a Europa, mas assim como posteriormente se expandiu entre os demais continentes. Infelizmente as manifestações de magia foram igualmente reprimidas durante a colonização. Com os reis e rainhas em grande parte praticantes da fé centralizada, a imagem de outras formas de pensamento sobre o divino se tornou completamente afrontosa a lei e ordem estabelecida pela coroa e mesmo aclamadas como uma pauta a ser combatida com todas as forças. Hoje, os estudiosos da arqueologia bruxa entendem que dentro de civilizações americanas como os Incas, a magia era aceita e incorporada como uma parte essencial das decisões entre a população. A chegada dos espanhóis em meio a uma guerra civil favoreceu não apenas o declínio do poderio inca sobre as terras andinas, mas também a opressão da magia praticada por eles. Entretanto, algumas comunidades menores incas conseguiram se sobressair com as suas habilidades com feitiços e os magos, antes respeitados pelos demais incas não praticantes de magia, precisaram se esconder em túneis subterrâneos embaixo das ruínas abandonadas hoje. O mesmo aconteceu nas tribos africanas em Gana que, ao pressentirem a chegada dos conquistadores após previsões obtidas com videntes, criaram barreiras de magia para causar tempestades de areia no deserto do Saara a qualquer sinal de aproximação dos europeus. A questão é que esses povos, antes considerados partes de uma população mesclando homens bruxos ou trouxas, da qual vivia em completa harmonia, precisaram se retirar desse equilíbrio e se esconderem das garras ambiciosas e intolerantes dos conquistadores. Se hoje a sociedade mágica está tão confortável se escondendo, é parte por toda essa opressão criada nas eras de escuridão do mundo. Sabe-se que nem todos os trouxas ainda mantém os mesmos pensamentos retrógrados do passado, entretanto a explosão de batalhas recentes prova que ainda existe uma parte com a mesma opinião mesclando os sentimentos de violência e o temor.
Hoje, com toda problemática envolvendo o conflito trouxa e bruxo, os pensamentos retornam para as raízes históricas dessa perseguição e refletem sobre como todas essas guerras poderiam ter sido evitadas. A verdade é que a magia não é uma ameaça ou uma heresia. A magia é uma benção da natureza, e mesmo os trouxas normalmente alheios ao que acontece, são agraciados pela presença dessa magia diariamente. Como todo o tipo de força natural, a magia pode ser manipulada de diversas formas, seja de maneira negativa ou positiva. O que define essa manipulação são justamente as nossas escolhas. Acho que Alvo Dumbledore é o autor do pensamento. O desejo é que esse pensamento esteja presente nas cabeças daqueles que ainda insistem em criar mais embate e sofrimento. Independente de qual seja a parte.