Redator: Liam Chandler Wichbest
No subúrbio de Londres, uma bruxa chamada Josephine Stickwand foi dada como desaparecida após uma denúncia feita pelos seus vizinhos. Ela, uma mulher na casa dos quarenta, proprietária de um pequeno empreendimento de herbologia, vendia, sem nenhuma distinção, plantas e ervas diversas das quais não machucavam nenhum dos trouxas que compunham a maior parte de sua clientela. Josephine sempre fez questão de esconder as suas plantas mágicas, ela não queria que ninguém descobrisse a sua procedência e muito menos que corresse o risco de expor o seu mundo secreto. O que ela não esperava foi a caótica perturbação na cidade, logo após os acontecimentos culminantes da exposição da magia e a queda do Ministério da Magia.
Desde então, muitos bruxos têm desaparecido nas ruas da grande capital inglesa. A cada dia, a lista de pessoas compondo as estatísticas aumenta e preocupa aqueles que permanecem em defesa de suas próprias vidas privadas. Para o governo trouxa, a caça por indivíduos com aparente procedência bruxa se tornou uma ordem de comando e mesmo os mais treinados em feitiços de disfarce têm tomado medidas drásticas de proteção e segurança. Um velho bruxo que preferiu não se identificar afirmou que preferia encontrar abrigo no interior ante a ameaça das armas e opressão trouxa. “Aquelas coisas são mortais. Escute o que estou dizendo. Nossa magia é boa, mas um tiro de bala é difícil de curar. Eu digo por experiência. Prefiro passar um tempo em Queerd… Opa, quer dizer… Em uma cidade qualquer do interior até que essa bagunça seja controlada.” Outros não tiveram a mesma sorte, como foi o caso de Uther Longbroom. Uther era um bruxo de trinta e dois anos, nascido e criado no centro de Londres. Ele possuía hábitos incomuns para a vizinhança, mas era taxado apenas como “exótico” pelos demais. O homem conhecia os trouxas, sendo amigo e colega de muitos deles. Quando a ameaça foi instaurada, acabou sendo denunciado por uma mulher que informou, com unhas e dentes, que Uther fazia parte de uma seita mística. Diante da chegada dos militares trouxas, ele aparentemente tentou se defender com feitiços, mas acabou sendo assassinado com um tiro no peito. O que fizeram de seu corpo ainda é um mistério.
A magia sempre atiçou a curiosidade dos trouxas, seja positivamente ou negativamente. Lá pelos anos 20, nos Estados Unidos, a Sociedade Filantrópica Nova Salem causou burburinho quando iniciou uma série de manifestações contra qualquer associação a bruxaria. Em meio ao século XXI, a barbaridade desse manifesto se renova com um grupo chamado “Associação de Proteção e Combate à Profanação” ou “APCP”. Composto majoritariamente por conservadores e aliados religiosos, a associação se formou rapidamente quando um grupo de frequentadores da Igreja decidiu combater a “recente ameaça demoníaca” existente entre a população bruxa. Nas reuniões, torna-se claro o quanto essas pessoas enxergam o ser bruxo como um indivíduo associado à práticas profanas e perigosas para os cidadãos de bem, especialmente aqueles que contribuem com o dízimo para a Igreja. Desde então, manifestações e reuniões da APCP tem atraído mais e mais adeptos, incitando a gasolina dentro do incêndio que toma proporções anormais a cada segundo. A intolerância conseguiu afetar até mesmo aqueles que nada tinham a ver, como a pobre trouxa Gloria Charletown, uma jovem que dizia ser amante de wicca em suas páginas nas redes sociais e acabou sendo detida erroneamente, pois a associação lhe denunciou como uma bruxa assumida. “Ela nunca frequentou a nossa Igreja. Nunca nem ao menos contribuiu com o dízimo.” Informou uma das líderes da associação. Gloria não era bruxa coisa nenhuma. Ela apenas achava “cool” parecer como uma após assistir muitos filmes trouxas como “A Feiticeira” e “Sabrina Vai à Roma”.
Mas, em contrapartida, há quem considere essa situação bastante excitante. Mesmo diante das ruas tenebrosas e cada dia mais vazias de Londres, grupos de pessoas, especialmente jovens na faixa dos vinte, erguem cartazes coloridos com desenhos de chapéus pontudos, luas minguantes e gatos negros. São trouxas que assumem a causa em pró dos bruxos. Em um relato exclusivo, Carolinne Tantz, uma das manifestantes pioneiras da causa “Acolha um Bruxo”, afirma: “Não queremos que nossos irmãos bruxos sejam perseguidos. Queremos que eles saibam que estamos aqui para ajudá-los e acolhê-los!” Ela segura um cartaz com os seguintes dizeres: “Tua intolerância bate no nosso feitiço e volta quicando.” Eles riem, usam fantasias de Halloween com adereços estereotipados, pintam os rostos e não parecem ter medo de serem igualmente detidos a qualquer momento. O que se sabe é que o total de zero bruxos foram beneficiados com a causa.
Depois de um mês de tumultos e uma zona de guerra, a sociedade isolada da Grã-Bretanha parece ganhar os seus primeiros nuances após a exposição mágica e mesmo assim consegue se adaptar e mostrar como realmente tem reagido ao caos. As forças armadas britânicas se reergueram e, sem cerimônia, continuarão a perseguir a população mágica como uma Inquisição dos novos tempos. Ainda assim, os grupos civis de opressão também reforçam que o poder da ameaça está presente até mesmo nas pequenas relações do nosso cotidiano. Em meio a essa batalha, não há distinção entre soldado e colega de quarto. Para um bruxo britânico em 2019, todo cuidado é pouco! Proteja-se, busque auxílio e esteja atento! Estamos todos juntos!
Obs.: Caso você tenha informação sobre qualquer um dos desaparecidos, contate a redação do Profeta Diário.