Por: Annie Miller Slowli
Não é novidade que o dia a dia no Departamento de Cooperação Internacional em Magia do Ministério da Magia Britânico é marcado pela presença de negociantes de diversas nacionalidades e por escrivaninhas lotadas de pergaminhos pedindo por reuniões, nem que todos estão ali em busca de vantagens para seu país. Recentemente, dezenas de documentos de conteúdo específico ainda não divulgado (apesar de certamente envolverem acordos internacionais) simplesmente desapareceram das gavetas de uma das salas de reuniões de tal Departamento. Nesse momento, os principais embaixadores britânicos do Nível 05 do Ministério, incluindo o Chefe do Departamento, Nikolaus McBride, estavam ocupados com a visita diplomática de representantes alemães (que não eram políticos ou outras autoridades, e sim um grupo de civis, cidadãos bruxos comuns) para discutir acordos econômicos entre ambos os países. Um fugitivo supostamente envolvido com esse roubo e de identidade desconhecida driblou os guardas ministeriais no Átrio e conseguiu escapar por meio de uma das lareiras da Rede de Flu. O caso agora está sendo investigado pelo Departamento de Mistérios.
Apesar da motivação incerta do desaparecimento dos documentos (as possibilidades são muitas, desde ele ter sido executado por espiões enviados por governos de outras nações até por grupos de criminosos de interesses próprios), tal acontecimento traz à tona discussões em torno de como acordos internacionais são estabelecidos e qual sua verdadeira viabilidade e reacende o debate sobre a situação dos acordos da Grã-Bretanha com os demais países; tanto os vantajosos, como os acordos com a China, quanto aqueles aparentemente adversos, como os acordos com a própria Alemanha, que são os que mais se sobressaem atualmente. A srta. Hee-young Park Krochan, responsável pelo Organismo de Padrões de Comércio Mágico Internacional, destaca como importância geral dos acordos o cumprimento da interação entre a comunidade bruxa: “Um acordo internacional no mundo bruxo é essencial, não só em aspectos econômicos, até porque promove a circulação de dinheiro, mas também em aspectos culturais. A circulação de produtos bruxos entre diversos países promove a integração entre eles. A comunidade bruxa não pode encontrar-se segmentada, dividida. E, aproximando vários países politicamente, é possível garantir que não nos separemos. Se a rede estiver bem integrada, é difícil ter problemas até mesmo com os trouxas, que vivem paralelamente ao nosso mundo.”
Atualmente, das negociações que envolvem o nosso país, podemos destacar como bem-sucedidas as relações com a França e com a China. A proximidade com o primeiro permitiu alianças em uma série de setores de exportação de produtos, como o de recursos para o preparo de poções. Por exemplo, negociações promoveram recentemente uma queda significativa no preço do chifre de arpéu, um ingrediente valorizado e de difícil obtenção. Além disso, como bem salientou a srta. Krochan sobre aspectos culturais, há uma forte troca de tendências de mercado entre ambos os países, como as inovadoras tendências culinárias francesas e a torcida simultânea de times de Quadribol (bem como a venda de seus acessórios personalizados). Já com a China, salientam-se acordos vigentes relacionados ao intercâmbio de estudantes, principalmente os de cursos de especialização. Para um futuro não muito distante, estão sendo discutidas negociações relacionadas à importação de diferentes tipos de madeira muito utilizados em varinhas mágicas pela comunidade bruxa chinesa, mas não pela britânica, como a sequoia.
Nem sempre, porém, um acordo comercial resulta em êxito. Antes de se assinar um termo, há uma série de pesquisas em torno da viabilidade econômica e muitas discussões até se chegar a um senso. Quando mal executadas, abrem margens para que os benefícios se convertam em uma burocracia ineficaz e em obstáculos para comerciantes. “Para poder assinar um novo acordo, são analisados diversos aspectos”, diz Krochan. “Primeiro, a viabilidade econômica deve ser ideal; ambos os países, ou contratualistas, devem ser favorecidos. A gente também se preocupa muito com os produtos. Tem que ser algo que pode e será comprado pelos bruxos do Reino Unido e de Londres, principalmente. Também estudamos a possibilidade do produto ‘substituir’ algum que já parta do nosso comércio interno. Por exemplo, o comércio de tapetes mágicos. Tais tapetes substituiriam, tecnicamente, as vassouras voadoras, caso realmente fossem comprados. E, se não fossem, seria um prejuízo para nós e para os comerciantes.”
O abalo nas relações diplomáticas entre a Alemanha e a Grã-Bretanha, por exemplo, vem se intensificando desde que foi anunciado que a primeira sediaria a Copa Europeia. Desde então, a Alemanha vinha estudando propostas ousadas, como a proibição da entrada de imigrantes britânicos e franceses no país. Segundo o Responsável Pelo Setor de Imigração e Migração da Grã-Bretanha, Christopher Renselman, convidado pelo Profeta Diário para esclarecer do ponto de vista do Ministério da Magia Britânico os acordos econômicos em vigor atualmente, os alemães queriam monopolizar a venda de produtos no evento, produzindo em antemão um excesso de estoque. “Eles apenas não contavam que França e Grã-Bretanha também possuíssem direitos no comércio, o que dividiria os setores internos de venda igualitariamente. Visando ajudar a Alemanha com seus produtos acumulados, a Grã-Bretanha sugeriu escoá-los em um valor mais barato, considerando que eles estavam em 80% acima do preço, e ajudar os germânicos a evitarem um grande prejuízo.”
Os desentendimentos tiveram início, portanto, no momento em que alemães aumentaram de forma exorbitante o preço dos itens vendidos na Copa. Foi apurado que apenas um par de um determinado tipo de luvas de quadribol foi vendida durante todo o evento, por um bruxo que investiu nelas todo o dinheiro que tinha consigo. Já um bruxo chamado Bryan Doncraft recebeu passe VIP para o camarote da final da competição e, por conta desse privilégio, foi confundido com uma celebridade, mas era apenas o dono de uma loja de penhores. Mesmo após a Copa Europeia de Quadribol, porém, a Alemanha continuou tomando medidas para levar vantagens em seus negócios. “Mesmo com a ajuda [oferecida pela Grã-Bretanha durante a Copa], a Alemanha persistiu em rebater da forma mais oportunista possível”, explica o st. Renselman. “Insatisfeitos com a venda barata, eles propuseram aumentar as taxas de exportação e diminuir os preços de importação com a Grã-Bretanha e França, ameaçando cortar os acordos econômicos caso não fossem atendidos. Também decidiram dificultar a entrada de imigrantes em seu território, o que gerou um caos nas fronteiras. Tais sugestões foram fortemente combatidas ao se apresentar a dependência da Alemanha não apenas aos produtos britânicos e franceses (em compra e venda), mas assim como a importância do turismo no país.”
Outro exemplo recente que não vem sendo vantajoso para a Grã-Bretanha é a decisão do Egito de colocar alguns de seus produtos acima do preço do mercado. Entre eles estão ingredientes muito utilizados em poções e que são encontrados apenas em tal país, como escaravelhos dourados do Nilo e couro de crocodilo gigante. Isso desequilibra o mercado quando o custo é repassado ao produto final, pois algumas das poções que utilizam tais ingredientes são medicinais, de modo que pacientes que precisam tomá-las frequentemente deixam de comprar outros produtos relevantes para a economia. Além disso, o Ministério da Magia Egípcio vem apreendendo uma boa quantidade de exportações britânicas e procura proibir a entrada de estudantes de nosso país, de modo a “assegurar a integridade dos estudantes egípcios sobre os recursos de sua terra natal”.
A economia e o sucesso da política de um país têm como uma de suas bases as alianças com outras nações bruxas, trabalho que está nas mãos e na competência de cada embaixador. Qualquer ofensa, desrespeito ou ameaça causado nesse ambiente pode se desenrolar em uma série de prejuízos que afetam toda a comunidade mágica situada nos países envolvidos e fora dele. Apesar de empecilhos que sempre acabam surgindo em meio a tantas negociações, a Grã-Bretanha faz parte de uma série de acordos vantajosos e certamente encontra-se historicamente num bom posicionamento no que se diz a respeito de alianças. Assim, o desaparecimento dos documentos, independentemente de sua motivação e da relevância das escrituras, é algo grave e não deve ser ignorado por autoridades e civis bruxos.