Por: Annie Miller Slowli
Imagine jogar xadrez bruxo, rastrear lareiras com Rede de Flu, mandar uma coruja para seus familiares, ler o Profeta Diário, assistir a diversas partidas de quadribol. Tudo isso numa versão trouxa, na palma da sua mão – e não tem nada a ver com a varinha mágica. Trata-se de um objeto chamado Smartphone, celular ou telefone móvel, extremamente popular no mundo trouxa. Possui geralmente uma forma retangular, bordas um pouco arredondadas e alguns milímetros de espessura. Um botão na sua lateral o liga e desliga, e outros dois no outro lado não servem para nada. Sua superfície lisa projeta uma série de imagens coloridas e organizadas onde você pode tocar com seu dedo aleatoriamente e ativar os chamados “aplicativos”, em que cada um possui uma função.
Um aplicativo mostra a hora, outros um mapa, infindáveis notícias (que, por sinal, não são nada interessantes como as do mundo bruxo) ou então pássaros que destroem obstáculos de vidro e madeira para explodir porquinhos verdes. Entretanto, outros aparentemente não possuem nenhuma função, como um “G” que, quando pressionado, apresenta uma barra. Quando essa barra é clicada, sobem letras na tela. Nada especial. E também há os aplicativos que possuem funções bastante úteis, mas não são tão efetivos, como um que indica o clima. Apesar de estar ensolarado no momento, ele mostrou erroneamente que chovia e ainda ousava adivinhar a umidade, a direção do vento e até mesmo a temperatura ao longo da próxima semana. Não deu para confiar.
Metade desses “aplicativos”, porém, apresentava um tremendo desrespeito a seus consumidores. Pedia, além do nome, uma senha, impossibilitando quem não a tivesse de acessar quaisquer recursos! E também não indicava onde essa senha poderia ser encontrada. Rumores, porém, garantem que o Smartphone permite que pessoas conversem vendo uma a outra, mesmo que estejam a quilômetros de distância, que capturem sons que poderão ser ouvidos mais tarde e que um despertador seja ativado dentro dele na hora que você quiser. A maioria dos recursos legais, porém, só pode ser acessados para quem possui uma tal de TerNet, uma rede que liga todos os aparelhos por meio de algo semelhante à magia.
O Smartphone pode até ser algo inovador e que concentra várias atividades num único lugar, mas nada explica a obsessão dos trouxas em relação a tal instrumento. Em locais públicos, os trouxas deixam de observar e vivenciar as coisas ao seu redor para se limitar a mexer no Smartphone. Alguns até colocavam uma coisa no ouvido conectada ao Smartphone para evitar que o ambiente interferisse na sua concentração direcionada ao que ele cutucava na tela. Abrir mão de tantas experiências para submeter-se à humilhação de vangloriar um objeto relativamente desinteressante não é uma escolha muito sábia.
A intenção do Smartphone de conectar várias pessoas e dar a elas acesso a diversas funcionalidades centralizadas em um só objeto é nobre. Entretanto, ter que possuir senhas ou estar ligado àquela rede restringe muito a forma como o usuário usufrui tal objeto. Não vale a pena desgastar-se tanto apenas para ter acesso a jogos que servem apenas para tomar o seu tempo ou a aplicativos que te manipulam para que você supostamente não possa viver sem ele. Pode-se dizer que os trouxas se entusiasmam de forma muito fácil, ainda mais a respeito de satisfazer a sua costumeira preguiça com produtos que fornecem praticidade. Se eles conhecessem a varinha mágica...