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Amor ou Paixão?

Por: Abby Marsh Schaeffer

Quando o "eu te amo" se torna tão casual quanto um "bom dia"

Soltar um “eu te amo” tornou-se tão fácil quanto desejar um “bom dia” para seu vizinho que decidiu cuidar do jardim usando ceroulas. Costumava demorar bastante para que uma pessoa conseguisse dizer com sinceridade e certeza que ama outra, mas hoje as coisas estão tão rápidas que você nem precisa conhecer o alvo do “amor” nos mínimos detalhes, basta ter beleza e carisma e pá! A frase simplesmente flui! O que é muito ruim! Estamos vivendo em uma sociedade em que a facilidade de desfazer tudo é muito grande. “Casou e não gostou? Separa. Comprou e não usou? Troca. Está namorando e não está feliz? Larga. Ou nem larga, arruma um step. É sempre bom ter alguém de reserva, vai que a primeira opção tem algum defeito...”. As pessoas desaprenderam a aceitar defeitos, a perdoar deslizes e a sentir de verdade. Sei que nós estamos vivemos numa fase onde a liberdade de escolha impera, mas até que ponto essa “liberdade” é mesmo liberdade e quando se torna instrumento de tortura do outro? Cada um de nós pode escolher com quem passará o resto da vida ou as próximas horas, mas e quando se trata de transformar pessoas em meros objetos? Continua sendo um direito de escolha? Monopolizar o ser humano e depois descarta-lo é cruel e se você faz isso com a desculpa de que o amor acabou, meu caro, você não sabe o que é o amor.

Paixão e amor são sentimentos distintos, mas que confundem bastante. Dar uma definição exata de cada um é um grande erro, pois as pessoas sentem de formas diferentes e reagem de formas diferentes a cada um deles, mas tentarei ser sucinta e colocar aqui o geral. Quando alguém compara paixão com um fogo que queira rápido não está sendo exagerada ou fantasiosa. A paixão está muito perto de ser uma chama que queima e se apaga, deixando um rastro por onde passou. Relacionamentos se iniciam com a crença de que esse fogo irá durar para sempre, que a atração física será eternamente a mesma e que nunca haverá rotina. Isso não existe, meu caro. É por isso que hoje em dia os relacionamentos terminam tão rapidamente. O amor é muito diferente da paixão, mas um não existe sem o outro. O rastro que paixão deixa como o fogo se apaga tem vários nomes, pode ser companheirismo, união, amizade ou lealdade. Pode ser ainda zelo, carinho, admiração ou preocupação. Ou pode ser tudo isso junto em quatro letras: amor. O amor é tranquilo, é cauteloso, é paciente e compreensivo. O fogo que fazia arder já apagou, mas sempre fica algo. Quando o que fica não pode ser reaproveitado, significa que nunca foi amor. A paixão pode durar anos para alguns e apenas semanas para outros, não há quem determine o tempo. O amor não possui data de validade, pois quando é, simplesmente é.

Paixão é quando o garçom está trazendo seu pedido e você está morrendo de fome. Amor é a sensação de barriga cheia, de satisfação, após comer o sanduíche. Paixão é o som da campainha tocando e o som de seus pés correndo para ir atender. Amor é o som da porta se abrindo, das chaves sendo colocadas na estante e aquele perfume tão conhecido invadindo a casa após um dia cheio. Paixão é o frio na barriga. Amor é o conforto da cama. Paixão é um olhar que devasta. Amor é o olhar que compreende. Paixão é o toque que faz incendiar um corpo. Amor é o toque que tranquiliza. Existe muita diferença, mas só quem já sentiu ambos pode afirmar com certeza. Quem ainda não experimentou o fogo se transformar em calmaria acaba metendo os pés pelas mãos por simplesmente acreditar que tudo é a mesma coisa. Desistir de um romance porque “esfriou” é sinal de medo. Quem acredita que a aventura estará sempre ligada ao fogo da paixão prefere fugir, dar as costas, desistir, quando nota que a verdadeira prova está nos momentos mais tranquilos. Só que quando isso acontece, o eu te amo já foi dito, promessas já foram feitas, planos já foram idealizados, sonhos almejados e no fim resta apenas frustação e mais medo. Medo de acontecer de novo e de esfriar. Entenda que não é para ser ardente, é para ser confortável, como um abrigo. Antes de soltar um “eu te amo”, é importante tentar compreender como o outro receberá a frase. Para você pode durar apenas alguns dias, mas e o outro? Sei que a sociedade exige que sejamos egocêntricos, mas se preocupar com o bem-estar do outro é o primeiro passo para ser realmente feliz.

Não se apresse, não se deixe intimidar, não tente ser perfeito. Deixe fluir. Reflita. 

“Uma pergunta foi feita a um casal de idosos que estavam casados há mais de sessenta e cinco anos: Como vocês conseguem manter um casamento por tanto tempo?

– Meu filho, nós nascemos em uma época em que, quando algo quebrava, éramos ensinados a consertar e não a jogar fora.”