Por: Annie Miller Sloli
Em busca de produtos mais baratos ou que não estão legalmente disponíveis, os bruxos podem procurar o mercado negro. Marcado pela falta de fiscalização, ele não poderia ser menos “obscuro”: nele, há mercadorias ilegais (como objetos para dominação e tortura de elfos domésticos) e roubados (como relíquias, obras de arte e brasões de ricas famílias bruxas) e esquemas usados para driblar os impostos e levar com certificações falsas ao consumidor. Os mercados negros representam o perigo de adquirir algum bem sem conhecer a sua origem — e isso pode sair muito caro.
Se a qualidade do produto fosse razoável, certamente ele viria de uma fabricante confiável e não precisaria estar no mercado negro. Por isso a maior parte do que se adquire no mercado negro apresenta defeitos e não possui a qualidade do mesmo produto no mercado formal, apesar do preço notavelmente menor. É o caso de uma vassoura voadora de aparência idêntica à de uma Nimbus 2001, encontrada num mercado negro disfarçado de loja de brinquedos trouxa no norte da Inglaterra. Quando testada, apresentou velocidade muito inferior em relação à original, travamentos constantes que podem causar acidentes, curvas lentas, demora em atender aos comandos e uma série de outros defeitos. Um acontecimento que gerou indignação na comunidade bruxa foi a disponibilidade da famosa vassoura Firebolt no mercado negro francês semanas antes do lançamento oficial no país e a um preço menor do que seria vendido nas lojas legais.
Anos atrás, a britânica Margery Ramona, de 59 anos, procurou o hospital mais próximo quando surgiram erupções coloridas em sua pele e faíscas saíam de suas narinas ao espirrar. Foi detectado que ela estava com varíola de dragão e a clínica ofereceu quarto exclusivo para ela e um tratamento a um preço “especial”. Ramona tomou diversos medicamentos e injeções caríssimos e provavelmente não registrados. O que era para ser apenas um caso simples da doença quase se tornou uma fatalidade. A varíola agravou; Ramona ficou com diversas manchas esverdeadas na pele, muita febre, vômito e dores musculares, sintomas que até hoje ela diz sentir com uma certa frequência. Quando questionado o motivo de ter aceitado se tratar em tal clínica, a bruxa alegou que não sabia que o local era ilegal e foi persuadida de que a doença se agravaria se ela não se medicasse imediatamente.
O mercado não se limita a objetos e pessoas – também acomete todo tipo de criatura mágica. Como os interesses dos compradores vão além de domesticá-los, não há necessidade de cuidados com as criaturas para que fiquem com uma boa estética. Geralmente, são enjauladas e mantidas com crueldade até o momento da venda. Os preferidos são as criaturas das categorias XX (inofensivas/podem ser domesticadas) e XXX (bruxo competente pode enfrentar), por possuírem um valor maior e não serem tão difíceis de capturar e manter em cativeiro. Em um local de tráfico que funciona sob encomendas, hipogrifos estavam presos pelo pescoço por correntes, de modo a impedi-los de se deitarem para que sua exaustão não permitisse que tentassem escapar. Junto a eles, havia crupes famintos, amassos com ossos quebrados e agoureiros comprimidos em gaiolas. Apenas criaturas muito valiosas recebiam um cuidado razoável , como filhotes de Chifre Longo Romeno.
Ingredientes de poções também ocupam uma posição alta na lista das mercadorias mais comercializadas no mercado negro. E está intimamente ligada às criaturas mágicas, pois boa parte dos ingredientes vêm delas. No mesmo local, vários ingredientes estavam à venda, alguns deles extraídas no momento da compra — o cinzal é sacrificado para que os ovos sejam retirados de dentro dele. Sobre as plantas do mercado negro, elas representam um perigo tanto ao meio ambiente, pois pode ser que a vegetação nativa tenha sido retirada para a plantação destas, quanto para o consumidor, pois podem não ter passado por todas as inspeções necessárias para verificar a segurança de seu uso misturado a outros elementos.
Apesar de movimentar tanto dinheiro e envolver tantas pessoas, o mercado negro precisa ser evitado. Os perigos são maiores do que a imagem vantajosa mostrada pelos vendedores ilegais, e a fiscalização atual não é proporcional aos problemas causados por essas transações. Nas vielas da Travessa do Tranco, é comum ver bruxos de má aparência trocando objetos misteriosos, cenário que não muda há anos. Resta à população bruxa evitar a compra de artigos e serviços de origem duvidosa e não seguir as orientações de estranhos como fez a sr. Ramona.