Por: Abby Marsh Schaeffer
Natal. Ah, o natal! Não consigo imaginar alguém que não sinta um comichão estranho ao pensar nessa data tão especial. Estranho? Sim. Os sentimentos são diferentes e variam de pessoa para pessoa. Enquanto uns se dissolvem de alegria por estarem a um passo de reencontrar amigos e familiares, outros fervem de preocupação, pois ainda não encontraram a roupa perfeita, o presente perfeito ou a decoração perfeita. Infelizmente, a última parcela de pessoas citada tem crescido ano após ano. Prefiro acreditar que o número de consumistas tem crescido porque a economia tem melhorado e o tempo tem diminuído, mas quanto mais me esforço para agarrar à minha pouca fé, mais percebo que as pessoas têm ficado mais alheias aos sentimentos natalinos que costumavam povoar o coração de todos, sem exceções.
Comprar tornou-se o principal verbo usado na época natalina. Os bruxos compram, compram, compram e compram, mas nem sequer têm a preocupação de acordarem os filhos na manhã de Natal para entregarem seus presentes. A maioria está ocupada com o trabalho, com dinheiro ou em exibir a belíssima ornamentação nova que foi colocada na fachada para despertar inveja nos vizinhos tão fúteis quanto eles próprios. Enquanto isso, os filhos abrem seus presentes, se divertem com os brinquedos novos por um ou dois minutos antes de sentir aquele vazio gelado por não terem a atenção e o carinho dos pais numa data tão especial.
Gostaria de compartilhar uma história que aconteceu com um casal de bruxos que são grandes amigos da minha família, mas que precisaram de uma forcinha do espírito do Natal para deixarem suas preocupações de lado, pararem a vida corrida e olharem ao redor, só para apreciar as coisas lindas que estão em volta. Susie era a mais nova estagiária do Ministério da Magia e queria muito impressionar seus superiores. Como qualquer jovem bruxa que sonha em crescer dentro do emprego dos sonhos, ela aceitou mais trabalho do que deveria e numa noite de Natal, há quase cinco anos, Susie ficou sozinha em casa para terminar os relatórios que deveriam ser entregues no dia seguinte. A jovem desmarcou a viagem que faria para o Canadá, inventando uma desculpa qualquer para os pais e para os avós, e nem sequer preocupou-se em comprar algo gostoso para comer na véspera. Estava focada no trabalho.
Brian era um jogador de quadribol na época. Órfão de mãe, Brian nunca foi apegado à família. Não se dava bem com o pai e ambos estavam sem conversar já fazia dois meses. O rapaz não tinha pretensão nenhuma de se reconciliar com o pai para as festividades de fim de ano e por isso preocupou-se apenas em comprar uma garrafa de vinho para beber sozinho em sua casa. Brian saiu de casa na noite do dia vinte e quatro de dezembro, por volta de nove da noite. Queria comprar o vinho, amêndoas e alguma carne que pudesse degustar enquanto assistia algum filme de terror, mas o azar começou a brincar com o jogador assim que colocou os pés para fora de casa. O gelo acumulado na escada da entrada derrubou-o no chão sem nenhuma piedade. Teimoso e com o orgulho borbulhando dentro de si, decidiu que procuraria o que queria sem aparatar, já que voar em tempos de nevasca era arriscado mesmo para um bruxo com experiência em voo.
Susie percebeu que sua geladeira estava praticamente vazia às nove horas da noite do dia vinte e quatro de dezembro, hora exata em que deu uma pausa no preenchimento dos relatórios para comer alguma coisa. Desesperou-se. Atrapalhada e pensando no pior – não conseguir entregar o trabalho extra –, Susie correu pela casa em busca da varinha, acabou tropeçando na dobra do tapete e estatelou-se no chão. O resultado? Sua bela varinha quebrada em dois pedaços. Vestiu um casaco grosso e botas quentinhas, fechou a casa e pegou sua vassoura. E daí que estava nevando? Susie saiu voando com cautela, mas mesmo assim enfrentou um forte vento durante todo o percurso, até encontrar uma pequena lojinha de alimentos aberta àquela hora. Os produtos lá eram mais caros, bem mais caros, mas não havia outro lugar. Parou ali mesmo e entrou. Estava quase azul de frio! Tremia enlouquecidamente, arrependida por ter vindo de vassoura.
Parecendo ser apenas uma maré de azar, Brian e Susie encontraram-se dentro da loja e iniciaram uma disputa pelo último pedaço de cordeiro congelado. A discussão começou rapidamente e quando se deram conta, estavam berrando um com o outro, tentando pegar a carne congelada. Antes que houvesse um vencedor, toda a iluminação dentro da loja simplesmente apagou-se. O vento do lado de fora tornou-se extremamente forte e a neve começou a cair gradativamente. Brian tomou o cordeiro das mãos de Susie e encaminhou-se para o caixa, mas não havia ninguém ali. Susie correu para a porta, mas percebeu que a fechadura e as dobradiças estavam congeladas. Brian até tentou usar magia para abrir a porta, mas parecia estar protegida por um feitiço muito forte.
O casal discutiu por duas horas, mas cansados e famintos, acabaram aceitando o fato de que passariam o Natal presos dentro da loja. Eles acenderam velas, abriram latas de feijão e salsicha, rechearam pão com queijo e abriram uma garrafa de vinho. Para os pais frívolos que deixam seus filhos sem um abraço verdadeiro de Natal pode parecer horrível ficar preso dentro de uma loja, no meio de uma nevasca, na companhia de uma pessoa completamente estranha, mas acredite ou não, para Brian e Susie, foi o melhor Natal possível. Ambos perceberam que não havia necessidade de uma mesa farta, de enfeites caros e presentes de luxo para que o Natal fosse especial. Eles mal se conheciam, mas depois daquela noite não se desgrudaram mais. Brian e seu pai voltaram a se falar e Susie largou o emprego no Ministério da Magia, disse que jamais passaria o Natal preenchendo uma papelada que ela nem sequer compreendia ao certo.
Eles ficaram noivos no Natal seguinte e estão casados até hoje. Fui madrinha do casamento e posso dizer sem dúvida alguma que o que aconteceu com eles naquela noite de Natal não foi algo comum. A magia da varinha de Brian não funcionou, mas a verdadeira magia estava ali o tempo todo, trabalhado para que eles percebessem o verdadeiro sentido da noite natalina. Presentes? Enfeites? Roupas? Comida? Companhia. Carinho. União. Amor. Sei que não irei mudar nada na mente de ninguém contando uma história de amor que começou no Natal, mas espero que a magia dessa data atinja os corações gelados, tornando-os quentes e aptos a amar sem impor barreiras. Espero também que ninguém precise ficar preso numa loja para entender que coisas materiais, status social e prestígio financeiro não são tão importantes quanto estar perto de quem amamos.