Por Annie Miller Slowli Há nem tanto tempo, pensar em professor era o mesmo que pensar em adultos exigentes com uns punhados fios de c...

A propícia juventude educadora de Hogwarts

Por Annie Miller Slowli

Há nem tanto tempo, pensar em professor era o mesmo que pensar em adultos exigentes com uns punhados fios de cabelo brancos e aparência ranzinza. Não se podia levantar expectativas de uma aula cheia de perigos, afinal, a maioria era bastante teórica. Hoje, o corpo docente de Hogwarts apresenta um quadro totalmente contrário a esse. Os professores não são muito mais velhos que os setimanistas, e as rugas de anos de experiência inexistem em sua face descontraída. Cheios de ideias e muito dispostos a serem originais em cada aula, os jovens docentes podem contribuir muito para a formação de seus alunos. Para isso, porém, precisam enfrentar diversos obstáculos. “Acho que os professores mais jovens e sem experiência são como os alunos recém-chegados à escola, com medo do desconhecido e prontos para fazer tudo o que for necessário. Isso faz de nós coisas incríveis e também coisas incrivelmente idiotas se não tivermos cuidado. É uma faca de dois gumes, Annie”, comenta a professora de Alquimia, Bea Habsburg Campbell, que aos 22 anos leciona aos alunos de 16.

O Profeta Diário fez um levantamento da idade dos professores de Hogwarts, e os números são impressionantes. De um total de trinta e oito professores, seis possuem entre 18 e 20 anos; dezessete entre 21 e 25 anos; nove entre 26 e 29 anos; cinco entre 30 e 40 anos; e – pasmem – apenas um tem mais de 40 anos.

A professora de Aritmancia, Octavia Houten Pietrzak, conhece muito bem as dificuldades iniciais que essa situação impõe aos jovens professores. Ela se formou no Instituto Durmstrang, onde a grade de ensino e o comportamento dos alunos são diferentes dos de Hogwarts, e acredita que isso aumentou seu receio de começar a lecionar assim que formou. “O desafio de ser uma professora muito jovem diante de uma classe de alunos poucos anos mais novos que eu, a princípio, foi assustador. A primeira barreira foi me impor. Mostrar autoridade quando se tem um rosto de feições boazinhas não é nem um pouco fácil. O início de sua profissão pode definir toda sua carreira, então é importante que os primeiros contatos com a turma definam imediatamente quem você é. A falta de domínio da classe no início pode gerar problemas no futuro (uma má fama e consequentemente a falta de respeito dos estudantes) e isso é um enorme obstáculo a ser enfrentado.”

Os maiores obstáculos enfrentados são exatamente aqueles que temos em uma primeira impressão sobre o assunto – a imaturidade em lidar com relacionamentos. Ela continua: “Outra barreira foi a minha transição da adolescência para a fase adulta. Muitas vezes eu me pegava entrando na brincadeira dos alunos, me preocupando com provocações infantis e isso me deixava estressada. Demorei um pouco a entender que mesmo que o professor seja amigo da turma, existe um limite que deve ser respeitado por ambos os lados para que haja uma harmonia verdadeira. Eu queria ser a professora que nunca tive, mas percebi que não é assim que funciona. Professores jovens sofrem com essas barreiras no começo, pois a falta de experiência – tanto na docência quanto nas relações humanas – impede que eles possam agir de forma equilibrada. Mesmo após cinco anos atuando como professora, ainda me deparo com situações que não sei contornar. É preciso afundar nos livros e estudar muito para ter um leve domínio do conteúdo, já que é o contato diário com a matéria que irá transformar um professor novato em um professor experiente. E é preciso paciência para entender a natureza humana e compreender que algumas coisas vão acontecer, independente da sua postura na sala de aula.”

Olga Bach Gebühr, de 37 anos, cita o mesmo acontecimento que Octavia quanto à harmonia entre alunos e professores jovens em sala de aula. “Professores mais jovens são bastante empolgados, chegam cheios de vontade de ensinar, cheios de ideias e na esperança de deixar tudo agradável para a maioria. Mas enquanto isso pode ser uma vantagem, ao mesmo tempo é uma desvantagem; chegam com muita sede ao pote! Muitos não sabem como de fato funciona trabalhar num corpo docente, sem contar a inexperiência. Chegam com o propósito de fazer tudo divertido e serem bem-vistos pelos alunos, mas têm que se lembrar de que não são crianças como eles, e sim adultos supostamente maduros! Muitos deixam a didática e o aprendizado em si de lado, e acabam sendo bastante indisciplinados.”

Quanto às mudanças no conteúdo das aulas proporcionadas pela pouca idade dos professores, Bea, aquela mesma que citou uma frase acima, destaca que a ousadia e a falta de experiência são os fatores que mais influenciam. “Eu não sei se isso torna as aulas de fato mais arriscadas ou mais difíceis, não acho que exista um padrão por conta da idade dos professores. Acho sim que sermos jovens têm dado abertura para muitas coisas, isso é inegável. Quando eu era aluna (uns cinco ou seis anos atrás), a coisa era um pouco diferente, os professores já eram mais velhos. Claro que não necessariamente todos Matusaléns como o caso do meu querido paizinho [aquele com mais de 40 anos], mas já tinham sim uma certa idade sim. De uns tempos pra cá, os recém-formados tem se mostrado interessados em lecionar, o que é ótimo e valoriza muito a profissão, mas falta a todos nós muita experiência. Vamos ser ousados e mandar os alunos em atividades malucas que vão ser mais arriscadas do que aquelas que os meus professores faziam? Sim, mas vamos fazer isso em parte pela falta de experiência. Quanto mais jovens, mais abertos a novas coisas nós somos, ao mesmo tempo que mais inexperientes, e isso nos torna menos aptos ao que estamos prestes a fazer. Loucuras acabam surgindo por causa disso e são saudáveis até certo ponto, mas também temos que tentar absorver um pouco da seriedade e maturidade que os professores mais velhos têm ou vamos acabar deixando as rédeas tão soltas que não será mais possível conter os alunos dali a algum tempo.”

O professor de Feitiços Helioth Alaine Kerberos foi um dos que começaram a dar aulas no ano seguinte ao que formaram. O que o motivou a entrar para a docência foi sempre gostar de passar seu conhecimento para os demais. Já para sua mascote e amigo leal, Andrômeda, foi a forte ligação para com a Sonserina e o poder que Hogwarts representa. No início, queriam dar aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas. Foram incumbidos, entretanto, a dar aula de Poções aos primeiranistas, mas ficaram muito felizes da mesma forma por gostarem do ambiente que Hogwarts proporciona aos alunos, professores e demais funcionários. Convidados pelo Profeta Diário para dizerem um pouco sobre como foi começar a dar aulas assim que se formaram em Hogwarts, alegaram que tudo foi muito difícil no começo. “Acredito que no começo foi realmente algo chocante, afinal de contas temos um jeito único de dar aulas e isso gera certo desconforto entre nós, os demais professores e alguns alunos. Andrômeda gosta de separar os alunos por suas Casas, eu gosto sempre de trazer algo diferente para aula, e muitas vezes as pessoas não gostam muito do nosso jeito exótico de assim as fazê-las. Mas… acredito que estamos caminhando bem. Muita gente olha e pensa que somos loucos e ficam dizendo que não podemos fazer isso ou aquilo, mas se até o ‘menino do gato branco’ como éramos apelidados se tornou o diretor da Sonserina, o que impede de novos professores chegarem a tais destaques?”

Chris Greenwood Campbell, o professor mais velho do corpo docente, é otimista quanto à situação e a qualifica como promissora. “Não poderia ter gente melhor para ensinar as nossas crianças. É claro que eles não tem experiência e também sabemos que eles vão errar, mas é errando que se aprende e elas também têm muito o que aprender com esses jovens. Pense só, Annie, pense nos seus tempos de escola, professores jovens dispostos a inovar tudo, dispostos a tentar uma didática mais solta e saborosa, não acha que teria tirado maior proveito? Lembro-me dos meus tempos de menino em Hogwarts e vejo a grande diferença. Os professores no meu tempo de aluno… Sim, faz um longo tempo, eu sei, minhas rugas não mentem. Ora, mas onde eu estava? Ah, sim. Os professores eram todos velhos, velhos de idade e velhos de alma também. Eles eram rígidos, fechados, completamente iguais em todo o momento. Não estou dizendo que não era divertido, mas a coisa era bem diferente, principalmente nos tempos mais sombrios onde tudo era motivo para se estar em alerta.” 

Pai de duas jovens professoras, Bea e Camille, percebe a diferença entre eles e acredita que possuem muito a contribuir com a escola. “Aposto que minhas filhas são professores melhores do que eu, elas na casa dos vinte e poucos anos estão tão mais abertas a tudo do que eu, que já estou velho e ultrapassado, marcado pelo tempo e com meus próprios vícios e manias. A gente se acostuma e pronto, a coisa nunca mais muda, vira uma rotina. Esse corpo docente dos jovens é a melhor coisa que poderia acontecer para essa escola. Ela nunca foi ruim, não me entenda mal, mas a questão é que ela sempre precisa de melhorias e sempre precisa se atualizar. Quem melhor para isso do que um jovem com a mente fresca e aberta a tudo que o mundo tem para oferecer?”

Olga, porém, valoriza muito os professores experientes e analisa que eles também possuem dificuldades na parte de se relacionar com os alunos. “Os professores mais velhos carregam uma experiência que faz muito a diferença! Anos de licenciatura acabam dando uma imensa carga de aprendizado que é passada aos alunos seguintes. Com anos no ramo, nós aprendemos a lidar melhor com os alunos, já que tivemos muitos anos para nos adaptar a diversos sistemas de ensino e a diversas turmas distintas, e essa adaptação faz falta nos docentes mais jovens. Por outro lado, quanto mais velho o docente, mais difícil é para ele se adaptar a novos sistemas, e também é difícil ter certa proximidade com os alunos devido à distância de idade. Mas isso nunca foi um problema para mim. Sempre mantive relações restritamente profissionais com os meus alunos e prefiro assim.”

Entre tantos pontos positivos e negativos, concluímos que tanto os professores mais jovens quanto os mais velhos podem garantir aulas de qualidade aos seus alunos mesmo que de modos tão distintos. E são bastante felizes fazendo isso! O Profeta Diário agradece a todos os participantes dessa matéria e deseja a todos um ótimo final de ano letivo.

“Após sair de Durmstrang, decidi que não lecionaria para alunos acima do quarto ano. Ser jovem numa turma de sétimo ano tornou-se motivo para ser constantemente convidada para encontros. Também era costumeiro encontrar bilhetes no meio do meu material, dizendo coisas ao meu respeito que me magoavam e feriam minha integridade. Ser mulher e ser uma professora nova é ainda mais difícil, mas a recompensa veio aos poucos. Logo no meu primeiro ano como docente recebi muitos elogios e vários alunos disseram que gostariam de ser professores também, que eu os tinha inspirado a seguir essa profissão. Consegui conquistar alunos que até hoje se correspondem comigo, contando como está a faculdade ou o emprego, e ainda sou apontada como motivo de incentivo para eles. É gratificante, apesar das dificuldades iniciais – assim como em qualquer outro trabalho. Eu não escolheria outra área que não fosse a docência, nasci para ser professora.” — Olga

“A pouca idade facilita muitas coisas, boas e ruins. No fim, é o bom senso de todos que prevalece e como – graças a Merlim! – não tivemos nenhum acidente ou problema nesse ano letivo acho que as coisas estão no caminho certo.” — Bea

“Foram dois anos licenciando Poções e agora estamos em Feitiços para os segundo e quinto anos e esperamos continuarmos a dar aulas no próximo ano. Sem contar que esse ano estamos como Diretores da Sonserina, algo que Andrômeda sempre desejou e eu, confesso para vocês, preferia não interferir muito. E ano que vem, com certeza, teremos a Sonserina no primeiro lugar novamente!” — Helioth