Por: Elisa E. Ferrer McCready
Existe e possivelmente jamais deixará de existir um ideal de amor, de marido, esposa, enfim um ideal de relação amorosa que se encaixe no que sempre se sonhou e que acima de tudo não dê problema, dor de cabeça, chateação, que não exija muito e que viva em perfeita sintonia.
Quando finalmente, entra-se em uma relação, em pouco tempo fica claro o quanto esse é um sonho impossível de ser alcançado. Inicialmente até parece que houve esse encontro, que surgiu alguém perfeito, mas basta um tempo de convivência, de troca de intimidades para perceber que o outro tem falhas, características que não são as que se esperava e com as quais é necessário que se aprenda a conviver.
Vivemos em um mundo onde lidar com aquilo que é diferente da gente, está um desafio cada vez mais difícil. O esforço acontece unicamente para aquilo que interessa enquanto todo o resto deve se ajustar ao que se espera. Pessoas impacientes, intolerantes, infelizes quando a realidade apresenta seu outro lado, o lado que demanda ajustes e adaptações. Pessoas com cada vez mais recursos externos e mais pobres internamente, quase infantis. Relações vêm sofrendo com isso, ao sinal do primeiro maior desafio, aquele que exige mais de um casal, um abalo acontece, estruturas caem e percebemos a falta de solidez e sustentação.
Quanto mais paramentadas tecnologicamente e tecnicamente as pessoas estão, mais empobrecidas, despreparadas e carentes de recursos subjetivos que as ajude a dar conta dos desafios da vida elas também estão. Um paradoxo dos nossos tempos, pessoas que alcançam muito e no entanto, sentem-se vazias e incapazes de construir vínculos.
A vida pode ser perfeita, mas nem tanto, o outro pode ser perfeito, mas nem tanto, você pode ser ótimo, mas lembre que nem tanto. Simplesmente porque não existe esse terreno liso, as imperfeições estão ao nosso redor e dentro da gente também.
Sim, podemos dizer que existem defeitos e defeitos e quanto a isso não há muito o que contestar, é um fato. Existem certos hábitos e manias de um companheiro mais suportáveis enquanto outros são quase impossíveis de conviver. Cada um precisará desenvolver sua própria capacidade em lidar com tais diferenças, aceitá-las e incorporá-las à relação, saber acima de tudo o limite saudável dessa convivência.
Possivelmente o ponto fundamental de toda essa questão seja exatamente o que diz respeito à saúde emocional do companheiro, sua e do casal. Certos hábitos são mais do que apenas hábitos, sobrepõem o que mencionei anteriormente, sobre a crescente dificuldade em lidar com as diferenças. É fundamental que se saiba a diferença entre não conseguir conviver com as imperfeições do outro por infantilidade e aquela que já faz parte de um outro terreno. O terreno que aponto é o da própria destrutividade, alguém que bebe ou fuma em demasia, que tem vícios muito mais do que hábitos, que faz dívidas, que não tem uma vida produtiva, enfim traços de uma personalidade que destroem o presente de cada um e daqueles ao redor. Esse deve ser um importante limite a ser observado e sempre considerado em um casal.
Quando o outro tende a ter uma existência infeliz e destrutiva dificilmente conseguirá ser um bom companheiro e a relação corre o risco de ser uma tábua de salvação mais do que um terreno de troca e crescimento. Essa sim é uma situação de grande frustração para aquele que investiu e apostou, essa é também uma razão justa que deve conduzir a importantes decisões. Existe uma grande diferença entre lidar com a imperfeição do outro e lidar com a destrutividade do companheiro. A imperfeição pede maturidade enquanto a destrutividade procura por limites.