Quando a peçonha se torna um refresco
Redator: Liam Chandler Wichbest
Uma estrada rural é aparentemente incólume a perturbações, além das marcas de carroças no chão e as vinhas pertencentes a plantas na beira da estrada que ameaçam invadir o caminho. É o que se pensa aos olhos vistos, mas com um pouco mais de atenção e observação, percebe-se que um grupo de bruxos vem patrulhando a localidade frequentemente. Discretos, mas presentes. Cautelosos, mas poderosos. Eles estão lá. Eles estão em todos os lugares. São Vípers. O ambiente rural não é o único, mas da mesma forma, todos os vilarejos e localidades pertencentes a grandes cidades também ganharam cada vez mais a presença desse grupo que, se antes era considerado apenas uma representação do antagonismo, agora dividem as opiniões de quem os acompanha de perto.
Falemos de antagonismo. A sociedade costuma dividir os personagens principais em dois grupos conhecidos quando se trata de grandes narrativas: heróis e vilões. O meio termo praticamente não é citado. Desde o começo, ainda quando o Ministério da Magia redigia a lista negra dos procurados pelos aurores, a guilda liderada por Nyx Prince El Bianco se mostrou uma figurinha carimbada no clube da ameaça pública e não a toa, considerando o discurso aplicado nas ações orquestradas por sua influenciadora e criadora. De repente o problema se tornou mais complexo. O mundo regrado por bruxos brigando entre si pelo poder não esperou a investida por armas, chumbo e tecnologia trazida por uns velhos, mas ainda subestimados, companheiros de sociedade, os trouxas, que mostraram possuir munições muito mais perigosas que patinhos de borracha. Sequestros, interrogatórios e mortes misteriosas. Muitos bruxos incapazes de tomarem as atitudes corretas para se defenderem. É dai que surge uma proclamação do novo poderio, envolvida pela suposta chama da esperança, nas palavras de Nyx. Ela os protegeria contra a invasão trouxa, traçando inclusive estratégias que tornariam bruxos e bruxas preparados para uma eminente guerra.
Então chega-se a pergunta: antagonistas?
Não mais para alguns. Encontrar indivíduos que hoje possuem uma opinião totalmente diferente sobre os Vípers não é difícil. Todos os acontecimentos recentes levaram a uma virada de jogo que nunca poderia ser imaginada por um cidadão bruxo há alguns meses quando as fortificações ministeriais ainda existiam centenárias em Londres. (Ou mesmas escritas em um jornal de grande circulação.) A questão é que existem dados, e dados trazem informações conclusivas: 52% dos entrevistados em uma pesquisa independente* relataram que se sentem mais seguros com a presença dos Vípers patrulhando a sua região. Dentre desse número, 77% se justificaram afirmando que consideram os trouxas mais perigosos que os membros da guilda e os demais confessaram que embora não confiem no grupo, não veem melhor opção considerando a situação atual do governo.
Nunca - nunca mesmo - um grupo considerado - inicialmente - puramente antagonista conseguiu um grau de aprovação tão elevado. É uma relação totalmente diferente comparada a Lord Voldemort, quando boa parte da população se viu obrigada a colaborar com os seus ideais por medo. Os Vípers conseguiram boa parte dos adeptos em uma situação onde a ameaça mudou de foco, oportunidade para que seus ideais também fossem perpetuados em uma sociedade unida contra um inimigo maior. E para reforçar seus trabalhos, considerados até então em pró da sociedade mágica, os membros da guilda agiram efetivamente em momentos cruciais da história da última guerra, como foi o caso da evacuação do Hospital Saint Mungus, os ataques a Hogwarts e Hogsmeade, além do bombardeio no Beco Diagonal, batalhando diretamente com os trouxas e auxiliando a proteger a população bruxa inocente.
“Se não fosse por ela, eu teria morrido.”
O homem bruxo perdeu uma perna, mas por pouco não perdeu a vida no ataque ao Beco Diagonal. Por mais que quase todo o Beco estivesse vazio quando a invasão ocorreu, o homem em questão - que não será identificado - acabou ficando para trás e se viu encurralado por militares trouxas nas ruelas do conhecido centro de compras. “Antes que pudesse reagir ela apareceu para me defender. Quando escapamos, senti algo arrancar a minha perna, mas fiquei grato por não terem me arrancado a alma.” Ela era uma Víper. Sua grande heroína. “Se não fosse por ela, eu teria morrido. Não temos outra opção senão agradecermos a estes homens e mulheres que bravamente lutam contra esses vermes trouxas.” O homem se encontra bem, porém manco, em um refúgio patrulhado por Vípers. A informação veio junto de uma carta enviada com exclusividade aos jornalistas do Profeta Diário como um apelo para o apoio e defesa da guilda.
Os Vípers continuam a manter presença junto às comunidades bruxas amedrontadas pela guerra, e o que era antes uma imagem de estranheza e repulsa tem se tornado um porto seguro a ser atracado. Para muitos homens e mulheres, famílias inteiras com idosos e crianças que não conhecem de perto os planos traçados pelos trouxas, seguir e confiar na proteção da guilda tem se tornado a única solução para que tragédias ainda piores possam ser evitadas. Resta compreender quão verdadeiramente honesta é essa confiança.
“Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais selvagens que o Senhor Deus tinha feito.”
Gênesis, 3:1-5, Bíblia
Crença trouxa
(*) A pesquisa ouviu 5.000 bruxos. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, com intervalo de confiança de 95%.