Por: Isabelle D'Amici Roberts Milner Todo pai e mãe se orgulha em ter um filho que possui já a capacidade de entender quando lhe é pe...

O Quão Cedo é Cedo Demais?

Por: Isabelle D'Amici Roberts Milner

Todo pai e mãe se orgulha em ter um filho que possui já a capacidade de entender quando lhe é pedido para fazer alguma coisa e até mesmo para não fazer. Contudo, o assunto que venho abordar hoje é sobre um problema sério que muitas vezes é visto ainda como um tabu pelos pais. A imagem de bruxos famosos, ídolos de adolescentes e crianças, bombardeiam os mais jovens com uma aparência padrão que é considerada como a única forma de beleza, mas estariam as crianças a salvo desse tipo de exposição inadequada? Infelizmente, é cada vez mais comum (e me atrevo a dizer, inclusive, incentivado) que a criança seja precoce e se comporte como um adulto, não apenas nos limites e responsabilidades. É raro perceber alguém que desincentive as crianças a experimentarem sensações que, talvez, não sejam ideais para aquela idade como dar um selinho no amiguinho ou até mesmo arrumar o primeiro namorado e tudo antes dos seis anos de idade.

Contudo, o que ninguém percebe é o quanto um comportamento aparentemente inocente pode ser prejudicial para o futuro de nossos pequenos. Afinal de contas, existe uma linha tênue que separa sensualização da criança e sua erotização da educação sexual que todos pais devem disponibilizar quando acharem que o pequeno já tem maturidade para entender essa diferença.

Entre os 3 e 5 anos, é comum que a descoberta do próprio corpo cause dúvidas nas crianças, especialmente sobre a diferença entre o seu e o do amiguinho e isso é perfeitamente normal, deve ser falado com naturalidade. Porém, em hipótese alguma, ser um assunto buscado pelos próprios pais para o pequeno. A criança, quando estiver pronta para uma resposta com linguagem acessível, vai começar a perguntar sobre a origem dos bebês, contudo é importante ressaltar que nenhuma pessoa naquela idade é ainda erotizada (e nem deve ser). O uso de maquiagem deve ser visto como uma simples brincadeira e não como algo religioso a ser feito todo santo dia no caso das meninas assim como deve ser monitorado pelos pais. O adulto deve escolher a paleta de cores possíveis para aquela idade e, dentro desse limite, a criança pode escolher sua preferida. A menina precisa saber que é bom sim se arrumar para si mesma, mas que a beleza dela jamais vai depender exclusivamente daquele tipo de produto além de que existem fases que devem ser respeitadas. É o famoso: "Você vai poder fazer quando tiver a idade adequada. Por enquanto, é criança ainda e como tal, só pode brincar com maquiagem de vez em quando, não usá-la sempre". Em suma, a dependência deve ser evitada e isso vale também para o salto alto que pode prejudicar a postura em uma idade de formação.

Porém, o que mais me assusta como escritora e como mãe é perceber pais que incentivam os filhos a “pegar as amiguinhas”, “beijar na boca”, “ter o primeiro namorado”, “só sair de casa de maquiagem e salto alto”, dentre muitas outras coisas. A infância é uma idade de inocência e nós, como pais, deveríamos querer garantir aos nossos filhos o direito de serem apenas crianças. De construírem sua identidade baseada nas descobertas adequadas para sua idade sem o pular de fases. Conversando com minha filha mais velha (Olivia – 9 anos), perguntei a ela o que ela achava sobre as crianças mais novas de sua escola que já possuíam um comportamento de adultos e, com muita sabedoria, minha pequena escolheu suas próprias palavras para me responder. “Namorar, beijar, essas coisas me assustam um pouco. São tudo comportamentos de mamães e papais, então acho que tem que ser grande para fazer. Eu conheço salto, porque vejo você usando e gosto de brincar quando quero fingir que sou mais alta, assim como gosto de brincar com suas maquiagens, as vezes. E não acho que para ser bonita tem que usar maquiagem e salto alto todo santo dia. Ele dói para correr, eu sei, porque já tentei com o seu sapato, mamãe. Já batom acho que não devemos usar todo dia, não sei explicar o porquê, mas é coisa de adulto.”

Os danos para uma erotização precoce podem se estender por anos e podem ser mais graves do que se pode imaginar e isso nos remete a outro argumento. Em uma realidade como está a nossa atualmente, jamais podemos ter completa certeza sobre as intenções de um adulto ao se aproximar de uma criança. Com anos de ensinamentos e incentivos sobre beijar na boca em uma idade mais terna, comportar-se tendo interesses de adultos, vestindo-se de maneira provocante, estamos mandando uma mensagem clara para nossas crianças de que, mesmo sem eles terem o discernimento do que é apropriado ou não, é algo aceitável. Imaginem a situação: um adulto diz para seu filho que acha uma gracinha ele beijando os amiguinhos e aposta se ele teria coragem de lhe beijar na boca. A criança veria isso apenas como uma aposta, uma brincadeira, mas o adulto poderia se aproveitar de toda essa “normalidade” para se satisfazer com segundas intenções. E isso colocaria seu filho em uma situação perigosa.

Então, precisamos parar com urgência de tratar as crianças como atrações de um show capazes de realizar truques para nosso próprio entretenimento. Em lugar disso, a necessidade é passar a garantir que seus direitos de serem crianças e de terem uma infância sejam assegurados por nós, adultos, os supostos responsáveis por eles. E, só entre nós, a frequência de comportamentos de fato adequado a idade de nossos pequenos é tão raro que já passei a tomar por rotina o incentivo através de minha participação para garantir que meus filhos teriam anos de experiência brincando de pique-esconde, bonecas e jogando bola no jardim.