Por Peter Chthon Donati
Todo o bruxo, em algum ponto da vida, já se questionou, ou até quem sabe se irritou, a cerca do excesso de regras impostas pelo Ministério da Magia para manter a nossa existência em segredo dos Trouxas. Lógico que todas essas limitações possuem um motivo sensato para acontecer, mas é inevitável que em determinado ponto da vida tudo isso comece a incomodar. Talvez na adolescência é onde esse sentimento de contestação esteja mais presente, já que não podemos voar livremente em determinadas regiões, ou somos obrigados a ter cuidado extremo para não fazer magia na frente de um ser não-mágico, sem contar o eterno sentimento de medo e receio de que alguma regra possa estar sendo burlada sem querer a qualquer momento. Para nós que crescemos em uma sociedade assim, e que estamos acostumados a ver encantamentos de proteção e de ilusão em cada ponto existente do mundo mágico, pode parecer um pouco absurdo imaginar que existem sociedades que não sigam tais regras, mas a verdade é que muitas comunidades independentes são bem mais desencanadas quando o assunto é “se esconder”, usando o mínimo de proteção necessária, e deixando os Trouxas quebrarem suas cabeças criando teorias para explicar os bruxos que estão bem embaixo dos seus narizes.
Círculos da Namíbia
O deserto da Namíbia, na África, é o local de moradia de uma das tribos bruxas mais antigas do mundo. Por ser considerado uma terra inóspita pelos Trouxas, os bruxos encontraram ali o ambiente perfeito para construir suas cabanas e desenvolver sua sociedade. Naturalmente que a medida que a tribo foi prosperando e crescendo, era inevitável que o interesse dos Trouxas, em pesquisar aquela gente, surgisse. Para evitar serem importunados, a tribo optou por uma alternativa simples: Deixar suas casas invisíveis. Entretanto, diferente da gente, nada muito complexo foi pensado, e apenas um feitiço simples foi usado. Tão simples que apesar das cabanas desaparecerem, as marcas que elas faziam no chão continuaram a mostra. O lado bom foi que os Trouxas, em vez de realizarem alguma investida contra a tribo, começaram a tentar encontrar explicações para aqueles estranhos círculos que surgiam no deserto. Dezenas de teorias foram criadas, e até hoje ninguém sequer cogitou que fosse obra de magia. Vez ou outra algum explorador mais ousado se aproxima da região tentando encontrar uma nova explicação, mas nesses casos específicos, os habitantes da tribo dão um jeito de alterar a memória dos Trouxas, fazendo com que eles apenas se conformem em achar que aquilo é culpa da radiação ou de avestruzes compulsivos por fazer buracos (ou não estou brincando, uma teoria realmente acredita nisso).
Chaleira do Diabo
Também conhecido como Caldeirão do Diabo, é um local no parque estadual Judge C.R. Magney, em Minnesota, Estados Unidos. Antigamente existia uma enorme cachoeira extremamente abundante e muito utilizada por uma pequena sociedade bruxa que vivia paralela a aquela região. Com o passar do tempo, e o avanço dos Trouxas, cada vez mais ficou difícil aquelas pessoas usufruírem da água sem levantarem suspeitas. Logo os bruxos tiveram uma brilhante ideia: Porque não desviar a cachoeira em duas e desviar a água para mais próximo do local onde eles viviam? Desse modo, os Trouxas poderiam seguir com seus avanços, e os bruxos não precisariam mais sair para buscar o líquido. E foi isso que aconteceu. Com um pouco de magia que alteravam a mente dos trouxas que conheciam o local, e criando uma espécie caldeirão feito de pedra, os bruxos conseguiram criar dois cursos para a água. Uma seguia o rumo normal, já a outra caía diretamente nesse “caldeirão” e entrava por um portal, sumindo das vistas dos seres não-mágicos. Lógico que a curiosidade fez com que os Trouxas não se dessem por satisfeitos e quisessem descobrir para onde toda essa água ia, mas apesar de diversas tentativas, e até uso de equipamentos tecnológicos, ninguém conseguiu resolver o “problema” até hoje.
A epidemia do sono do Cazaquistão
Kalachi é uma pequena aldeia, de apenas 582 habitantes, localizada no Cazaquistão. Há uns anos, uma doença estranha começou a tomar conta dos moradores da localidade: sem motivo aparente, eles caíam no sono de forma fulminante, e podiam passar vários dias assim. Diversos cientistas Trouxas tentaram desvendar a causa, mas ninguém conseguia chegar a um veredito. Algumas teorias foram criadas e até uma delas hoje é aceita como a certa, mas a verdade é um pouco diferente. O Cazaquistão sempre foi um país que se destacou na produção de Poções. Talvez os bruxos de lá sejam hoje uns dos mais importantes na arte de criar substâncias para as mais diversas funções. Lógico que nem todas elas são feitas para o bem, e no Reino Unido ainda entra muita poção ilegal vendidas apenas no comércio negro. De qualquer forma, esse avanço do país em criar e produzir substâncias não veio sem um preço, e a população bruxa local começou a ser afetada pelos efeitos tóxicos. Eu sei que pode parecer um pouco surreal imaginar que fazer uma poção em um caldeirão possa gerar tantos problemas, mas imagine centenas de pessoas mexendo com diversos ingredientes, alguns até perigosos, todas ao mesmo tempo. Devido a essas más consequências, a população revoltada acabou reclamando com os governantes, que ficaram com um impasse em suas mãos: Eles não poderiam parar de produzir, pois as substâncias eram a principal fonte de renda da sociedade, mas também não podiam continuar a fazer mal para o próprio povo, e ainda querer o risco de uma rebelião. Logo, a solução óbvia surgiu: Em vez de causar mal para os bruxos, porque não fazer mal aos trouxas, deixando que eles se prejudicassem com os efeitos danosos das poções? O resto você pode imaginar. Kalachi foi eleita a cidade para abrigar todos os fabricantes de poções, e sofrer com suas consequências.
As luzes do vale de Hessdalen
Esse caso é bem mais simples do que os outros, mas até hoje quebra a cabeça dos Trouxas que tentam desvendá-los sem nenhum sucesso. O interesse dos seres não-mágicos pelo vale de Hessdalen, localizado no município de Holtålen, na Noruega, começou em meados dos anos 80, quando diversas luzes começaram a surgir no céu. As luzes apareciam em diferentes períodos de tempo. Elas podiam ser rápidas, lentas e há até mesmo registros de elas ficarem paradas no ar. Os formatos também eram variados: as luzes podiam aparecer em círculos, em forma de projétil e em cores como vermelho, verde, azul, amarelo – por vezes todas ao mesmo tempo. Após anos de pesquisa, teorias foram criadas, mas nada de conclusivo surgiu. Entretanto, a verdade é bem normal para nós. No vale existe uma pequena tribo de bruxos, e essas luzes fazem parte de diversos rituais deles. O padrão delas determina justamente o tipo de festividade que está acontecendo. O governo bruxo Norueguês até tentou argumentar com a tribo, explicando sobre os problemas que isso poderia causar, já que estava atraindo a atenção de Trouxas de todo o mundo, mas o chefe da comunidade retrucou dizendo que não se importava com isso e que nenhum ser não-mágico teria o direito de datar se ele devia ou não fazer seus rituais, enfatizando que os Trouxas seriam muito burros para deduzir qualquer coisa de concreta. Verdade ou não, é impossível negar que já fazem mais de três décadas, e Trouxa nenhum descobriu nada que sequer se aproximasse da verdade.