Por: Robin McBride Habsburg Era um dia aparentemente normal quando aconteceu. Eu estava tomando café enquanto meu pai fazia o seu almoço ...

Volta as Aulas: So-cor-ro!

Por: Robin McBride Habsburg
Era um dia aparentemente normal quando aconteceu. Eu estava tomando café enquanto meu pai fazia o seu almoço e me repreendia mais uma vez (falando sério, pais não cansam de xingar os filhos nunca?) por estar com a rotina tão bagunçada e desregrada quando uma coruja simplesmente pousou na única janela que tem na nossa cozinha. Branca, elegante, pomposa e (embora eu duvide que vocês vão acreditar) um olhar debochado e até mesmo meio irônico. Em seu bico nada mais nada menos que a Carta de Hogwarts, trazendo informações sobre mudanças do ano letivo além da habitual lista de materiais escolares. Meu pai parou de falar e eu parei de comer os waffles que tinham sido preparados horas antes. A Carta foi jogada ali mesmo, na soleira, e a coruja se mandou. Fácil assim: chegou, bagunçou minha vida e sumiu. Quase como um caso de verão ou um resfriado dos fortes. Subitamente chega e subitamente se vai. Que grande sacanagem, não? Eu, sinceramente, acho.

 Admito que pensei em sair correndo, o que é uma atitude no mínimo compreensível para quem acaba de deixar o quinto ano e os NOM’s para trás para enfrentar o sexto ano e os NIEM’s que vem de brinde. Mas, mesmo que eu tivesse me mandado naquele exato segundo, passando pela porta de pijamas, pantufas, cabelos em pé e resquício de saliva nos cantos dos lábios (não contem para ninguém, é segredo), eu sabia que era simplesmente impossível me livrar desse problema. Afinal, a maldita Carta já havia sido entregue, a coruja já tinha ido embora e eu sabia que não tinha maneira alguma de fazer a devolução – não que eu ache que tivesse como fazer isso, mesmo com a coruja presente, mas... Sonhar não custa nada. Sendo assim, apenas tratei de engolir o waffle que tinha na boca o mais rápido possível, pegar minha carta e sair dali. Eu tinha um luto para curtir e uma depressão para sentir. Minhas férias haviam (música fúnebre) morrido. Oficialmente. E o velório começaria quando eu abrisse aquele envelope.

Não me entendam mal, eu gosto de Hogwarts – e mais do que vocês podem imaginar. Meus melhores momentos (em sua maioria, pelo menos) foram vividos lá, meus melhores amigos eu conheci lá, meus maiores medos e amores descobri quando ingressei na escola. Mas é preciso admitir que não amo ela o tempo todo. Na verdade, somos meio casados, a escola e eu. Odeio ela e não consigo viver longe. Amo e detesto ao mesmo tempo. Atrapalha, mas faz falta. Mas, se Hogwarts é meu marido (ou minha esposa, como vocês preferirem), a liberdade das férias é minha amante. Convenhamos, quem não ama a falta de compromisso, cobrança e obrigação que ela proporciona? É simplesmente fantástico não ter hora para dormir e acordar ou quilômetros de pergaminhos de dever ou ainda lidar com a pressão de não tirar um T (trasgo) nos exames. Mas é como dizem: “o que é bom não dura pra sempre”. Aliás, acho que é por isso que eu e Hogwarts temos uma relação tão duradoura: não é sempre bom.

 Enfim, devaneios a parte, eu admito que não estava preparada para as novas responsabilidades que o sexto ano me traria. Os NIEM’s era só um detalhe (apesar de bem grande e pesado e valioso e... Vocês entenderam), na verdade. De imediato, a parte que mais me fazia pensar em abandonar os estudos para virar uma trabalhadora de uma loja qualquer em Hogsmeade (nada contra vocês, trabalhadores. Vocês são dez!) era a novidade recém implantada (mas que sorte, a minha!) em Hogwarts: as grades de formação. Deixe eu explicar: quando se chega no sétimo ano, é esperado que você já tenha decidido o que quer fazer pelo resto da vida (o que eu acho um verdadeiro absurdo, já que com dezessete anos eu duvido que eu vá ser capaz de decidir algo por mim mesma) e, assim, decidir qual a grade escolar você seguirá. Cada uma delas é para uma área e... No geral, é isso. Estudos feitos já mostraram que isso é uma excelente ideia, que ajuda muito o aluno a se encontrar e por aí vai. Na minha humilde opinião? Como aluna, posso afirmar que é uma pressão e tanto. É um fardo maior do que se pode carregar. Espero que confiem e acreditem em mim quando digo isso e que não me julguem preguiçosa, porque realmente não é o caso. É só que... o futuro é assustador e ter que começar a pensar nele tão cedo é tão aterrorizante quanto a Casa dos Gritos (a casa mais mal assombrada do mundo).

 Descobri, ao ler a carta, que esse sistema, antes só implantado no sétimo ano, agora tinha passado para o sexto, também. “É importante que o jovem bruxo já esteja ciente do que quer para o futuro e, por isso, adotamos tal medida”, é o que dizia a Carta – aliás, não sei dizer se essa explicação para os pais, que precisariam instruir os filhos adolescentes, o que certamente não é fácil, ou para os sextanistas, que provavelmente estavam pensando em cometer suicídio (não que isso tenha se passado pela minha cabeça... Longe disso!). Não preciso nem comentar que a escolha foi difícil. Sou, no geral, uma pessoa muito indecisa e sou obrigada a admitir que tenho medo das consequências dos meus atos – e por que seria diferente com isso? Pra mim, qualquer decisão é complicada. Azul ou vermelho, doce ou salgado, cachorro ou gato: no mínimo, alguns bons segundos para responder é o que eu vou demorar. Com essa bomba recém jogada no meu colo, não poderia ser diferente.  

O.K, talvez eu esteja sendo um pouco dramática. Uma conversa séria (porém dispensável) com meu pai sobre o futuro, um rápido diálogo com minha melhor amiga e dois potes de sorvete depois (tudo bem, talvez tenham sido mais, mas não preciso divulgar esse tipo de informação pessoal por aqui!) foram o suficiente para eu decidir que não conseguia decidir e que, sendo assim, montaria minha própria grade. Medo de errar? Talvez. Insegurança? Provavelmente. Acontece que, como uma jovem com seus recém adquiridos dezesseis anos, decidir se quero seguir carreira ministerial, medibruxa, jornalística ou qualquer outra é realmente complicado. Não consigo me ver com o mesmo corte de cabelo por uma semana, que dirá determinar a carreira que quero seguir pelo resto da minha vida. Seja o que for, decidir tudo agora é uma atitude que eu simplesmente não conseguiria ter – e admiro quem teve. A vocês, meus sinceros parabéns. E que um dia eu chegue lá (amém). Bom... O que mais posso dizer além de “boa sorte a todos” e “tamo junto”?