Os últimos acontecimentos na Grã-Bretanha abalaram de forma muito negativa a relação entre os trouxas e a magia, até então desconhecida por eles. Vários relatos de trouxas que tiveram contato com algo sobrenatural, como a névoa sonífera, foram registrados. A intercepção nos meios de comunicação, o apagão, as sirenes fantasmas e a tempestade repentina deixaram a população e as autoridades trouxas em total confusão, sem ter noção do que estava acontecendo. Enquanto isso, nos perguntamos: qual é o limite das relações entre mágicos e não-mágicos? O que os separa? O que aconteceria se os trouxas ficassem sabendo da existência da comunidade bruxa?
Atualmente, a ligação entre mágicos e não-mágicos não é inexistente, apenas evitada. As crianças bruxas, antes de irem para Hogwarts, são educadas em casa, pois não podem ser confiadas a esconderem sua magia na escola tradicional. A Seção de Controle do Uso Indevido de Magia pode expulsar um bruxo da escola se ele usar magia fora dela, bem como quebrar sua varinha se um trouxa presenciar o ato. Quando isto acontece, o Esquadrão de Reversão e Central de Obliviação fica responsável por modificar a memória do trouxa. Por outro lado, há trouxas que inevitavelmente podem saber da existência da magia, como os pais de nascidos-trouxas e o primeiro-ministro do Reino Unido, que precisa ficar a par da existência dos bruxos se algo ameaçar o Mundo Mágico.
Quando os trouxas têm contato com a magia, relacionam os acontecimentos surreais àquilo que ele já conhecem, numa primeira instância. Fazem especulações sobre os extraterrestres, o mundo sobrenatural, as profecias bíblicas, o avanço da ciência e a ação de grupos secretos, por exemplo. Dependendo do grau de contato e da quantidade de trouxas que presenciaram o uso da magia, porém, as consequências são muito mais graves. O trouxa pode enlouquecer ao tentar ligar todas essas informações ou ter sérios danos físicos e mentais se for atacado ou torturado. E nem sempre o Ministério da Magia poderá atuar na modificação da memória do trouxa. Se um trouxa ter contato com uma criatura mágica e comentar apenas com suas relações mais próximas, por exemplo, o Ministério não descobrirá tal caso e não poderá intervir nele. Contudo, mais impactante do que o contato com a magia é a forma como ele foi feito. Caso seja por meio do pânico, como sofreu o Reino Unido, e envolvendo toda a comunidade trouxa, a relação entre dois mundos tão distintos pode ser desastrosa.
Poderia haver um processo de preconceito por ambas as partes, que já pode ser identificada na intolerância de alguns sangues-puros a nascidos-trouxas. Um sentimento de repulsa tomaria o lugar da pacificidade hoje existente. Mesmos governantes trouxas autoritários poderiam se erguer sob a premissa de declarar guerra aos bruxos. Como não seria possível alterar a memória da população de um território inteiro, a recuperação do processo de isolamento dos mágicos e dos não-mágicos seria algo muito longe de acontecer. Os trouxas jamais esqueceriam da existência dos bruxos de uma hora para outra e iriam requerer respostas que há muito escondem verdades reveladoras sobre a humanidade. Certamente, muitos trouxas passariam a querer ser bruxos, o que não é possível, ou então bruxos gostariam de perder suas habilidades. Os desastres são incontáveis.
O Mundo Bruxo e o Mundo Trouxa estão enlaçados um no outro, mas não unidos. A punição à revelação deliberada de magia está garantida no Estatuto Internacional de Sigilo em Magia, e o Ministério se responsabiliza a conter eventos que possam trazer danos aos trouxas. Tal Estatuto não existiria se não fosse reconhecido por toda a comunidade bruxa a ameaça à paz da convivência com os trouxas, e acabamos de presenciar uma breve experiência do que viria a ser o resultado dessa interação.